O diabólico e o moralista

A propósito das audições na comissão parlamentar para o caso do grupo e do banco Espírito Santo verificou-se uma vez mais a tendência irresistível de escolher bandos. Alguém associou a designação de banco mau e banco bom aos primos. O primo mau seria Salgado e o bom Ricciardi. Não vale a pena lembrar que a…

Sony pirateada
Na divulgação de e-mails pirateados entre o produtor Scott Rudin e a presidente da Sony Pictures Entertainment Motion Picture Group, Amy Pascal, ficámos a saber que ser apanhado a falar mal do Presidente Obama por escrito obriga à apresentação de um pedido de desculpa no mais curto espaço de tempo e que Hollywood é uma selva pouco dada a palavras simpáticas quando se trata de falar sobre actores, etc. Muitas pessoas ficaram escandalizadas com o teor dos e-mails – mais do que com o roubo – porque pensavam que os negócios de filmes que chegam a gerar centenas de milhões de receita eram fechados a chá e torradas. Adam Sternbergh, no site Vulture, esclarece que é bom sabermos que os bons filmes custam a fazer e que se dizem que Angelina Jolie «é uma fedelha mimada com pouco talento», nada disso se compara aos riscos do negócio. Sternbergh está fascinado com a troca de e-mails sobre o filme Jobs e com a dureza da negociação. Admito que eu também. 

Até o sol foi deus
Aconteceu com a Lista de Schindler, com o Exorcista ou com o Código Da Vinci. Não sendo mau nem bom, apenas oportunista e frívolo, entedia-me o desenterrar de teorias e opiniões a propósito de acontecimentos mediáticos. A propósito do filme Êxodo: Deuses e Reis, de Ridley Scott, o Washington Post apresentou uma explicação científica para a separação do Mar Vermelho, que salvou Moisés e o seu povo da perseguição das tropas do Faraó. Trata-se de uma explicação complexa e plausível baseada numa particularidade climatérica que pode ter tido aquele efeito salvífico. Já tinha ouvido dizer que o Mar Vermelho seria uma extensa floresta de juncos de águas rasas, o que seria uma explicação prática do milagre. Embora não seja fã de milagres também não me deixo seduzir pela omnisciência da ciência, se me permitem a expressão. Os milagres e os mitos são mais importantes por si próprios do que pela verdade histórica e científica das suas putativas origens. 

O divórcio engorda
Há dias uma querida amiga, com pouca compaixão por ela própria e com a graça que a caracteriza, dizia-me que na idade dela só era possível emagrecer se passasse por um divórcio. De imediato pensei em vários casos de mulheres que após o divórcio tinham recuperado uma elegância que parecia abandonada durante o casamento. Estudos recentes confirmam esta impressão e acrescentam que o mesmo não se passa com os homens, que têm uma tendência para engordar depois da separação matrimonial. Se com a magreza vem a saúde, sabemos que a gordura só traz problemas: de coração, arteriais, falta de ar, etc. Não diria que o divórcio pode aumentar a mortalidade entre os homens mas parece que também não ajuda nada. A que se deverá esta diferença de comportamento? Talvez à capacidade de cada um dos géneros falar sobre o que os atormenta. As mulheres falam, repetem, 'deitam cá para fora'. Por seu lado, os homens engolem as palavras. Passemos ao próximo.

Ouvir mal
Há anos que ouvia «Hot dog jumping for Albuquerque» quando os Prefab Sprout realmente cantavam «Hot dog, jumping frog, Albuquerque» no tema 'King of Rock 'n' Roll'. Só descobri a verdade sobre esta letra mais tarde e fiquei surpreendida. Maria Konnikova escreveu na New Yorker sobre a confusão de ouvir uma coisa em vez de outra, que acontece com frequência quando se quer repetir a letra de uma música. A palavra para esta confusão auditiva em inglês é 'mondegreen' e a sua tradução para português do Brasil é 'virundum'. É uma espécie de malapropismo a partir do que se ouve. Este caso particular de confusão entre o que foi cantado e o que foi ouvido acontece quando não somos nativos de uma língua ou sempre que ouvirmos palavras cantadas e não ditas. Pode acontecer de igual modo não conseguirmos distinguir um alarme de um carro do cântico de um pássaro. O nosso cérebro não percebe e tenta resolver o que pode, com as palavras que tem à disposição.