2015: Dez depoimentos, dez opiniões

A agência Lusa pediu a dez personalidades em Portugal uma antevisão de 2015:

2015: Dez depoimentos, dez opiniões

Cristina Leston-Bandeira, Professora de Estudos Legislativos da Universidade de Hull, em Inglaterra

"2015 é um ano de eleições tanto em Portugal como em Inglaterra. Um ano importante para olhar para os últimos quatro ou cinco anos, tanto num país como no outro, e ver o que vai acontecer. Em Portugal, o debate político vai centrar-se muito mais entre a oposição e o Governo. Será um ano muito político, de grande debate e já a pensar nas eleições".

"Nós estamos numa altura de mudança de paradigma, em que nos habituámos a ouvir de falar dos parlamentos como instituições representativas, que são. Mas actualmente, há uma vontade de o cidadão participar, de o cidadão ter uma visão própria e de [ter] uma oportunidade de dar as suas opiniões. 2015-2016 é uma altura, sobretudo com estes novos parlamentos, estas novas instituições que vão ser eleitas, uma oportunidade para abrir mais esses parlamentos, tornar esses parlamentos mais acessíveis, criar mais oportunidades para um input dos cidadãos, tanto a nível da sensibilidade como a nível dos próprios processos".

"No caso português, isso acontecerá paradoxalmente, isso acontecerá se houver uma maioria absoluta. Havendo uma maioria absoluta, em que há uma estabilidade, as instituições têm uma outra forma de se orientarem e de se reestruturarem, pensar como são as suas estruturas e como é a sua relação com o cidadão. 2015, penso que será o início de um novo parlamento tanto num país como no outro [Inglaterra] e de muitas incertezas no nosso sistema partidário, sobretudo em Inglaterra".

Richard Zimler, escritor

"Eu penso que 2015 não vai ser muito diferente de 2014, ou seja, a [recuperação da] economia vai continuar muito lenta".

"Acho que vamos continuar nesta fase de pouca valorização da cultura, que é o que eu faço, a literatura, música, cinema. Normalmente os nossos políticos pensam a cultura como a última coisa, ou a primeira coisa cortada. [Na] literatura, há um destaque cada vez maior para livros muito superficiais, eu chamo esse fenómeno os 'clones', os livros sobre vampiros, sobre conspirações do Vaticano, vamos continuar a vender bem esses livros e os mais interessantes, sofisticados, complexos, provavelmente vão desaparecer a não ser que o autor tenha um nome já conhecido, que felizmente é o meu caso em Portugal"

"Acho que em 2015 vamos ter que lutar todos para contrariar este período de austeridade e de neoliberalismo selvagem".

Garret McNamara, surfista

"Sinto que as coisas estão a melhorar. Tenho a certeza de que [em 2015] a economia vai melhorar, que Portugal vai tornar-se um país melhor e que as pessoas vão ser mais felizes. Apesar do pessimismo das pessoas… Acho que precisamos de um movimento do tipo "Tudo é melhor em Portugal". Se fizermos uma campanha do "Tudo é melhor em Portugal" e mostrarmos que, de facto, é melhor, então toda a gente vai perceber".

"Se todos pensarmos da mesma maneira, nada vai mudar. Por isso temos de repensar, de uma forma positiva: 'Tudo é melhor em Portugal'. É essa a campanha que precisamos: As ondas são melhores, a comida é melhor, as pessoas são melhores, o clima é melhor – A Europa neste momento está a gelar e nós aqui estamos de t-shirt e chinelos!

"As mensagens são: 1. "Portugal é a Califórnia na Europa". 2. "Não há tubarões". 3. "Tudo é melhor em Portugal". Se passarmos essas mensagens ao mundo, com as pessoas todas em Portugal a pensar dessa maneira, não podemos perder".

"[Portugal] é um dos melhores países do mundo, mas as pessoas têm de se aperceber disso. As pessoas têm de ganhar moral. Já se orgulham das suas cidades, da sua gastronomia, mas não do seu país. Por alguma razão, alguma coisa reprime uma visão conjunta para Portugal"

Afonso Reis Cabral, escritor

"Eu gostava que se verificasse uma coisa que é a normalidade, talvez seja um bocado ingénuo, mas nós estamos no fim do ano de 2014 em que a cada semana, a nível político, judicial, social, há alguma novidade que nos tira do balanço", afirmou à Lusa o autor de 24 anos.

"Estamos fartos de, a cada semana, termos um sobressalto, seria tão bom que isso não acontecesse em 2015".

"Era bom que, de repente, tivéssemos um ano muito mais tranquilo e simples para podermos crescer, para podermos respirar, mas acho que isso provavelmente não acontece, mas a normalidade era um objectivo espectacular para 2015", afirmou.

Maria Manuel Mota, investigadora

"Não pode faltar tempo nem optimismo. Esperemos novas medidas e que surjam formas de estar mais optimistas na ciência, em Portugal e no mundo inteiro. Não vai faltar curiosidade a esta equipa e vontade de trabalhar".

"Sem dúvida que este ambiente de restrição cria um ambiente de depressão, triste e que não é bom porque não sabemos o que vai ser o futuro".

"A principal consequência [dos constrangimentos financeiros] é a criação de uma atmosfera de quase depressão e isso é terrível. A ciência vive das pessoas seguirem a sua curiosidade, do entusiasmo porque as pessoas querem seguir algo que lhes é muito natural que é a sua curiosidade".

"O problema que muitas vezes temos é que só temos 100 por cento da nossa energia e quando colocamos as energias numa coisa tendemos a esquecer as outras e isso é algo que a comunidade científica não pode esquecer".

"[A melhor notícia para 2015 seria] uma vacina mais de 90 por cento eficaz, mas que é completamente irrealista, porque não a temos ainda".

João Magueijo, Cientista

"As nossas exportações vão aumentar, e muito. Exportações de talento, pessoas jovens, pessoas graduadas, com cursos. Estou a falar de engenheiros, de médicos, enfermeiros. Vê-se cada vez mais para quem vive cá fora. Antigamente a emigração portuguesa era uma emigração económica, de baixo nível. Agora é ao contrário: cada vez mais são pessoas com cursos, que não conseguem colocação em Portugal, que se chatearam com aquilo ou que não tiveram escolha e vieram para cá".

"A segunda coisa que consigo antever é um grande aumento dos subsídios de família, mas é subsídios de família ao Estado. Serviços que as famílias prestam ao Estado. A minha impressão quando vou a Portugal é que as pessoas se desenrascam porque a família ajuda. Estamos a falar de pais a dar dinheiro aos filhos, a avó a tomar conta dos netos".

"O meu quadro para Portugal para 2015 é péssimo porque não vejo isto mudar até exportarmos os políticos, até nos vermos livres da situação de democracia completamente falida".

"Os melhores políticos são aqueles que não querem fazer política e acabam por fazer porque não têm outro remédio. Não há disso em Portugal".

Carlos Tavares, presidente executivo da PSA Peugeot Citroen

"Eu acho que Portugal tomou um rumo que está certo, é um rumo difícil, muito exigente porque está baseado na competitividade do país, na sua globalidade". 

"Aceitar que temos que construir a credibilidade do pais e a competitividade para construir um futuro melhor, eu acho que esse rumo está correcto, já está a dar resultados, como se vê, e portanto acho que 2015 vai estar na continuidade da melhoria que se está a ver em 2014". 

"Eu acho que cada vez mais se vai reforçar a competitividade do país em todos os aspectos, no rigor da sua gestão, na competitividade da sua indústria, na qualidade dos produtos que fabrica, na qualidade dos serviços, na qualidade do acolhimento, em que tudo isso vai na mesma direcção, desde que essa competitividade seja aceite pelos portugueses". "Eu acho que essa direcção está correcta e já esta a ser tomada em 2014, acho que 2015 vai estar na continuidade de 2014". 

Fernando Pinto, presidente da TAP 

"Estou bastante optimista com 2015. Acho que vários factores nos podem ajudar. Temos uma boa meta de défice comportada de acordo com o que é a linha da União Europeia. Também o petróleo, nos níveis a que está a chegar, nos pode ajudar bastante". 

"A imagem de Portugal é cada vez melhor. É o país da tranquilidade, as pessoas têm cada vez mais conhecimento sobre a nossa cultura, o nosso passado e são bem acolhidas e bem recebidas".

"O turismo vai continuar a ser uma plataforma importante para Portugal. Temos que receber os nossos turistas muito bem e a TAP continuará a trazê-los para cá".

Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago

"Uma mudança de política em Portugal em que o compromisso do Estado seja com os cidadãos, que fazem este país, e não com necessidades ou conveniências internacionais".

"Que seja um acordo com os cidadãos para melhorar as condições de vida, recuperar tecido industrial, para que haja mais trabalho, e que [o sistema de] saúde não continue a deteriorar-se".

"Não sei se é uma perspectiva, mas é um desejo para 2015: uma mudança de política para os cidadãos".

Sampaio da Nóvoa, professor

"Eu quando penso em 2015 recuo 600 atrás a 1415. 1415 é uma data simbólica: a chegada de Portugal a Ceuta e que no fundo marca o início da expansão portuguesa. Acho que é uma boa data [2015] para nos repensarmos hoje, uma boa data para pensarmos quem somos, para definirmos uma nova estratégia para Portugal, para definirmos uma nova estratégia de futuro para Portugal". 

"Os portugueses têm resistido, a sociedade portuguesa está viva, os portugueses e a sociedade portuguesa são melhores do que as instituições do Governo, do Estado, da Política, das instituições económicas. Temos de olhar para esta sociedade portuguesa, que vive, que existe, que resiste, que continua a produzir coisas muito interessantes do ponto de vista económico, cultural e social e a partir deles reinventarmos uma ideia de futuro para Portugal. Se 2015 for isto, 2015 será um ano muito importante, um ano de viragem para Portugal e para os portugueses".

Lusa/SOL