A corrupção e a Família Real espanhola

Já se viu que a corrupção grassa no mundo. Imagino que sempre grassou. Mas neste momento, tornou-se uma qualidade para as chamadas elites políticas – que já nem sequer querem cultivar uma das bases da democracia politica (a de que os políticos devem ser estimulados, não pelo dinheiro ou o lucro – e daí ganharem…

Vem o relambório a propósito da Mensagem de Natal do novo Rei de Espanha, Felipe VI, contra a corrupção, sobretudo dos cargos públicos. O que deu nas vistas, dadas as acusações contra a sua irmã Cristina e o cunhado Iñaki. Será que realmente alguma coisa está a mudar muito em Espanha?

Suponho que já aqui disse achar eu ter sido o grande erro de Iñaki Urdangarin pensar que podia fazer o mesmo que o sogro. O então Rei Juan Carlos viu-se aclamado Rei de Espanha numa quase miséria herdada do pai (o nosso bem conhecido conde de Barcelona, que viveu no Estoril), e hoje é considerado uma das maiores fortunas do mundo. Os presentes oficiais, contrariando tudo o que se passava no Ocidente civilizado, eram secretos. E podia recebê-los sem limites (o que também contrariava o determinado em países ocidentais, em que os presentes para o Chefe de Estado, a partir de um valor mínimo, revertem para o Estado). Era possível, portanto, o Rei de Espanha ter enriquecido legalmente (segundo as leis do seu país), apesar de imoralmente (segundo as leis da consciência universal).

Ainda assim, Juan Carlos esteve envolvido na maior parte dos escândalos económicos do seu tempo, em Espanha: com Mário Conde, Javier de la Rosa e eu sei lá quem mais. Falou-se na sua responsabilidade em assaltos a casas de pessoas. E, como ninguém ousava pô-lo em causa (com medo pôr também em causa a frágil unidade de Espanha, que se pensa assentar na Coroa), deu-se ao luxo de reinar como um Rei medieval, com amantes, vida dissoluta à margem da crise que afectava os súbditos, e enriquecimento extremo.

Enfim, parece que os tempos mudaram com o novo Monarca. E que, mesmo antes, o genro, por muito genríssimo, errou sobretudo ao não perceber que os tempos mudaram, e não tinha os direitos do sogro (mesmo assim tão diminuídos que, depois do problema com a caçada aos elefantes na Namíbia acompanhado de uma ‘amiga’ quase oficial, ele preferiu abdicar).