Segundo apurou o SOL junto de fontes maçónicas, em São Tomé e Príncipe, a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP) – a maçonaria regular – conta com parte da elite governativa e a lista de recrutados inclui o Presidente da República Manuel Pinto da Costa e o primeiro-ministro Patrice Trovoada. Apesar de não esconderem que são inimigos políticos, fazem parte da mesma Loja Olhar Fraterno. Esta integra também, segundo fontes maçónicas, o presidente do Governo regional do Príncipe, Tozé Cassandra, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Manuel Salvador de Ramos.
Em Cabo Verde, a actividade da maçonaria portuguesa também se tem intensificado. A 13 de Setembro último foi criada uma nova loja, a Eugénio Tavares, que inclui o ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Arnaldo Pina Pereira Silva, o director da Polícia, Júlio Melício, e Pedro Mendes de Barros, um dos membros da direcção do Banco Caboverdiano de Negócios.
Os três fazem parte do grupo de sete fundadores desta loja que teve como primeiro líder um português que ajuda a desenvolver a actividade maçónica no país africano. Trata-se, segundo documentos internos a que o SOL teve acesso, de Armindo Azevedo, administrador da empresa Parques Tejo. Sempre que necessário, o maçon desloca-se a Santiago, a maior ilha do arquipélago, onde os maçons de Cabo Verde se reúnem e realizam as suas sessões maçónicas secretas.
Ao grupo de fundadores juntam-se Marcos Barbosa Rodrigues, CEO da agência de comunicação Artecomum, e o ex-deputado Miguel Cruz Sousa – e ainda o português José Luís Gouveia Ferreira. O antigo Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, também foi recrutado – mas terá entretanto suspendido a sua actividade. Aliás, segundo fontes da GLLP, o ex-PR foi o primeiro alto dirigente cabo-verdiano a ser recrutado, há muitos anos, em Portugal.
Polémica com espiões e políticos afastou angolanos
Em Angola, o grande aliado na maçonaria é Ruy Mingas, ex-ministro do Desporto e antigo embaixador em Portugal. É o líder da Loja Cónego Manuel das Neves que a GLLP abriu em Luanda.
Aqui, onde nos templos se reúnem vários generais, há outra loja mais pequena, que segundo as leis maçónicas é considerada “um triângulo” por ainda não ter a dimensão necessária. “Mas Angola tem todas as condições para ter três lojas e passar rapidamente a ter uma maçonaria independente da portuguesa”, explicou ao SOL fonte da GLLP, acrescentando que a polémica lançada em Portugal e que envolveu a Loja Mozart – onde se juntavam políticos, elementos da empresa Ongoing e espiões – afastou muitos angolanos da maçonaria. “Essa crise na maçonaria afectou em parte a expansão em Angola, atrasando a criação de uma Grande Loja, ou seja, uma obediência independente”, admite outro membro da maçonaria portuguesa.
A maçonaria lusa continua no entanto a apostar em Angola e tem dado destaque a Ruy Mingas no seio da irmandade. Em Setembro, quando o novo grão-mestre (o socialista Júlio Meirinhos) foi instalado, Mingas – que se deslocou a Portugal e assistiu à cerimónia – foi escolhido para desempenhar na cerimónia o papel de 'marechal instalador', uma das funções principais durante o ritual maçónico de consagração do líder.
Dificuldades em Macau
O recrutamento não se resume aos PALOP, alastrando-se a outros países onde também se fala português, como Macau e Timor-Leste.
Neste último, um dos mais destacados maçons é José Ramos-Horta, recrutado há alguns anos e tendo como 'padrinhos' o fadista Nuno da Câmara Pereira e o serigrafista António Inverno. A cerimónia de iniciação do antigo Presidente de Timor decorreu em Portugal, numa loja que funciona em Águeda, na região de Aveiro.
Muitos dos portugueses – nomeadamente dentro da elite jurídica e económica – que nos últimos anos se instalaram em Díli foram já recrutados na capital timorense.
Em relação a Macau, a GLLP tem sentido alguma dificuldade em conquistar os cidadãos locais. “Os chineses não são muito receptivos à maçonaria”, revela um responsável da maçonaria, explicando que nesta região a quase totalidade dos maçons que frequentam a Loja Luz do Oriente, da GLLP, são portugueses que ali vivem.
Em Macau também o Grande Oriente Lusitano tem uma loja, onde o impulsionador foi desde sempre o advogado Jorge Neto Valente.
Maçons vieram a sessões secretas em Portugal
Já na Guiné-Bissau a complicada situação do país tem impedido a abertura de lojas. Por isso, os dirigentes que vão sendo recrutados acabam por ser integrados em lojas que funcionam em Portugal. Luís Cabral, o primeiro Presidente da Guiné-Bissau que faleceu em 2009, chegou a ser iniciado na Loja Marquês de Pombal da GLLP que funciona em Lisboa.
Muitos dos dirigentes dos vários países lusófonos começaram por frequentar lojas maçónicas na capital portuguesa porque não havia nenhuma, na época, a funcionar nos locais onde residem.
É o caso dos dirigentes de São Tomé e Príncipe. Pinto da Costa e Trovada foram já recrutados há muitos anos e frequentaram lojas nacionais e estrangeiras. Tozé Cassandra foi igualmente iniciado em Lisboa na Loja Mercúrio e teve como um dos padrinhos o ex-presidente da Câmara Municipal de Oeiras Isaltino Morais.
Também Arnaldo da Silva, bastonário dos advogados de Cabo Verde, fez a iniciação em Portugal, na Loja Vasco da Gama. Esta teve com principal líder Rui Clemente Léle – um maçon da GLLP, já falecido. Foi ele que, há cerca de três anos e meio, quando era grande secretário da GLLP (cargo de direcção nesta obediência maçónica) foi a São Tomé e Príncipe criar a Loja Olhar Fraterno.
A decisão de abrir uma loja em São Tomé surgiu depois de a cúpula da GLLP ter verificado um crescimento de adesões. “Desde aí, o recrutamento não parou e tem entrado muita gente”, diz fonte da maçonaria, recordando que o objectivo é que todos estes países possam vir a ter a suas próprias maçonarias. “Até lá, dependem do grão-mestre português”.
Fora da alçada portuguesa apenas funciona a maçonaria de Moçambique e do Brasil, onde há obediências independentes com grão-mestres eleitos que lideram os respectivos maçons.