Sócrates foi colocado numa armadilha diabólica? Alguém lhe armou uma cilada judicial ou foi ele quem juntou a lenha para se queimar? Não lhe é permitido defender-se no processo? Mas não tem Sócrates um mediático e palavroso advogado de defesa? Não tem, por detrás, um poderoso escritório de advocacia? De que se queixa Perestrello se Sócrates não foi alvo de qualquer violação da lei nem de qualquer abuso de autoridade, antes pelo contrário? Está numa cadeia especial, só para funcionários do Estado, que o resguarda do contacto pouco recomendável com outro tipo de criminalidade. Recebe visitas em série, de todos os quadrantes e feitios. E, fora entrevistas e talk-shows, que não são fáceis de montar numa prisão, já fez a sua defesa no espaço público em, pelo menos, três declarações muito mediáticas.
De que se queixa, então, Perestrello? A prisão preventiva de Sócrates não foi ordenada por uma entidade legal e competente? Foi. Não foram pedidos habeas corpus e interposto recurso, sem qualquer constrangimento, para o Tribunal da Relação? Foram. Então?
Cabe é perguntar a Perestrello, que privou tão de perto com Sócrates: nunca estranhou a vida faustosa e os sinais exteriores de riqueza do então líder do PS? Nunca lhe fez confusão nem despertou a mínima dúvida o número de casos e processos judiciais em que o nome de Sócrates aparecia envolvido – da Cova da Beira à Face Oculta, passando pelo Freeport e outros? Nunca, pelos vistos.
A Armadilha Diabólica é o título de um clássico da banda desenhada, de Edgar P. Jacobs, já com mais de 50 anos. Mas nesse livro é o herói, o simpático e íntegro professor Mortimer, quem se vê enredado na teia criminosa do diabólico vilão Miloch. No caso de Sócrates, Perestrello parece estar a ver a história ao contrário. O enredo é outro e bem diferente.