Charlie Hebdo: Vizinhos portugueses recordam tiroteio

Vizinhos portugueses do jornal Charlie Hebdo, alvo de um ataque de extremistas islâmicos na quarta-feira afirmaram hoje à Lusa que o tiroteio foi ouvido em todo o bairro, assustando toda a população. 

Hoje, no meio da multidão de jornalistas e parisienses que vieram depositar flores junto ao jornal Charlie Hebdo, também se ouve comentários em voz baixa em português.

"Eu moro mesmo em frente. Ontem desci ao segundo andar para ir ao clube (ginásio). Eram 11:25. O professor começou a dar o curso e ouvimos o tiroteio, mas pensámos que aquilo era uma brincadeira", afirma Ermelinda Martins, reformada de 66 anos, que fica com o olhar embaciado quando recorda à Lusa o que aconteceu.

"O professor veio à janela, na altura em que o carro da polícia bateu no outro. E [ouviram-se) os tiros: 'ta, ta, ta, ta'. Ele disse que era perigoso e depois aquilo acalmou um bocadinho. No momento que vim à janela, vi outra vez o tiroteio e o polícia caiu", descreve, com viva emoção, aqueles instantes de "fogo cruzado".

Agora, Ermelinda diz estar traumatizada e com medo de sair de casa. 

"O que andam a fazer a matar estas pessoas?" – questiona-se.

Também Eduardo Cunha e o pai Modesto Cunha vieram ver o que se passava hoje na rua, que fica a apenas dois quarteirões do seu apartamento.

Modesto Cunha diz ter sido uma sorte não ter passado no local dos ataques ao final da manhã. 

"Estive para passar a essa hora, mas fui por outro caminho", descreve o português.

Já o filho, estudante de técnicas de laboratório, estava na escola do hospital La Pitié Salpêtrière para onde foram encaminhadas a maior parte das vítimas.

"Não ouvi o barulho das ambulâncias, mas quando saí para ir para casa estavam polícias e algumas entradas estavam tapadas. Tive que vir para a entrada principal para poder sair do hospital", recorda. 

Agora, Eduardo Cunha acredita que irá haver um reforço de segurança, pelo que não se mostra preocupada.

Lusa/SOL