Leigos já realizam funerais

O acompanhamento dos funerais católicos já não é uma tarefa exclusiva dos padres.A falta de sacerdotes está a fazer com que, em quase todas as dioceses do país, os leigos comecem a ser chamados para substituir os párocos nas chamadas exéquias fúnebres.

Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco, lançou há dias um repto aos fiéis da sua diocese para que se disponibilizem para esta missão. “Os ministros ordenados [padres], pelo menos entre nós, já não bastam e, dentro daquilo que nos é possível, temos de procurar uma solução que satisfaça a presença da Igreja e o acompanhamento da família em momentos tão dolorosos e sensíveis como a morte de um ente querido”, afirmou ao SOL, lembrando que este serviço não tem de ser realizado por um padre ou diácono, embora essa tenha sido sempre a prática.

O bispo diz que na sua diocese há vários anos que já há homens e mulheres que, pontualmente, apoiam os párocos nesta tarefa. Agora serão formados e mandatados especificamente para este serviço. E haverá, da parte dos padres, um trabalho de sensibilização das pessoas para que aceitem estas alterações. Estes ministros extraordinários deverão ser pessoas com habilitações académicas, bem inseridas na comunidade e com facilidade de comunicar, explica ainda o bispo.

Os primeiros a assumir esta função, adianta Antonino Dias, serão os leigos que actualmente já orientam as celebrações da palavra, cerimónias que não são consideradas missas, mas onde se lê o Evangelho.

Estas celebrações são cada vez mais comuns e ocorrem essencialmente em paróquias onde não há padre disponível para celebrar a eucaristia todos os domingos.

José Cordeiro, responsável pela Comissão Episcopal de Liturgia, explicou ao SOL que “além da escassez das vocações sacerdotais e diaconais, há uma maior consciência da vocação e da missão dos leigos na vida e acção da Igreja”.

Por isso, em várias dioceses, em especial no centro e sul do país, os bispos já confiaram esta missão a alguns católicos. “A experiência pastoral é positiva”, garante.

José Cordeiro, que também é bispo da diocese de Bragança-Miranda, considera que “a Igreja é ministerial, apesar de por vezes ainda parecer muito clerical”. E dá o exemplo de outros sectores onde são os fiéis a assumir responsabilidades: a catequese, a caridade (a direcção e órgãos sociais da Cáritas, centros sociais paroquias, fundações, misericórdias), as leituras e o coro da missa e a visita aos doentes. Há ainda os ministros extraordinários da comunhão, que ajudam o padre a distribuir a hóstia.

rita.carvalho@sol.pt