Passaram 74 dias desde a morte de Brittany Maynard, jovem rosto da luta pelo direito a uma morte digna. O seu marido, Dan Diaz, revelou em entrevista à NBC como foram vividos os seus últimos momentos.
“Ela sabia que a sua hora tinha chegado”, revelou Diaz, de 43 anos, que casou com Brittany, de 29, pouco tempo antes do diagnóstico fatal de cancro no cérebro. E falou do dilema que foi apoiar a mulher na sua decisão de recorrer à eutanásia.
“A questão é que… tu não queres deixar o teu amor partir. Mas pensar que ela deveria sofrer por mim, ou por quem quer que fosse? Não. E essa é a questão com que te debates. Ali estava a pessoa que eu amo e não queria vê-la partir”, contou, revelando depois o momento em que Brittany decidiu que iria em frente com o plano de escapar a uma morte dolorosa. Foi numa manhã em que teve violentas convulsões, após um passeio ao ar livre.
“As convulsões que ela teve naquela manhã foram um sinal dos riscos que ela corria, porque o que viria a seguir seria a perda de visão, ficar paralisada e sem falar. E depois ela ficaria essencialmente presa no seu próprio corpo”, disse, justificando a muito comentada decisão de pôr fim à vida.
No dia que escolheu para morrer, a 1 de Novembro de 2014, Brittany deu um último passeio perto de casa, com o marido, a família, um amigo próximo e o cão. Depois, preparou a medicação e recolheu ao quarto. A jovem tinha planeado o fim em detalhe. Por exemplo, escolhendo criteriosamente quais as últimas pessoas com quem quis estar. Um pequeno grupo de pessoas a que chamou de “círculo do amor”.
Por fim, ingeriu os medicamentos – uma mistura de sedativos, relaxantes do sistema respiratório, e água. Cinco minutos depois, adormeceu na cama. Cerca de meia hora depois, morreu.
Recorde-se que, em Junho de 2014, este casal trocou São Francisco, na Califórnia, pelo estado norte-americano do Oregon. Isto para poder beneficiar de uma lei estadual que garante o direito a uma morte com dignidade a doentes terminais.
A decisão foi tomada pouco depois de Brittany ter recebido um diagnóstico de cancro no cérebro em fase terminal, sem qualquer hipótese de cura. Os tratamentos disponíveis – quimio e radioterapia – apenas prolongariam a sua vida durante mais alguns meses. Brittany optou por viver apenas os meses de vida que o médico lhe dera, com a qualidade possível, dispensando tratamentos com efeitos secundários dolorosos e desagradáveis.
No Oregon, relata o site do Today Show da NBC, Brittany viveu um período ‘agridoce’, pautado tanto pela realização dos seus últimos desejos – sobretudo passeios por florestas e montanhas – como por convulsões e dores de cabeça muito intensas.
Durante esses meses, a jovem de 29 anos tornou-se um rosto global da luta pelo direito à morte com dignidade, concedendo entrevista e escrevendo artigos sobre a causa. Mas também dando conselhos de vida, da perspecitva de uma doente terminal: “Prestem atenção às relações que cultivam durante a vida, e não percam a oportunidade de dizer àqueles que amam o quão vocês os amam. Procurem um verdadeiro sentido para as vossas vidas, construído a partir das vossas paixões, e lutem por aquilo em que verdadeiramente acreditam e que apoiam”.