Criar um novo tipo de álbum de família é uma das funções, se quisermos ficar por uma visão benevolente desta nova tecnologia que vai começar a cercar-nos. Porque um drone, e não é preciso imaginar cenários militares ou terroristas, é uma máquina que carrega coisas pelo ar, com um operador colocado à distância, e que pode estar oculto e a uma distância de segurança. O mais comum é que o drone esteja equipado com uma câmara, e é por isso que os adultos pediram este brinquedo ao Pai Natal: para fazer filmes e vídeos caseiros que parecem documentários a sério. Mas, dependendo da imaginação, e aqui o céu é o limite, um destes quadricópteros (com quatro hélices, a tipologia mais comum) também pode servir para fins muito menos mundanos: espiar o vizinho, a namorada, as saídas dos filhos, as movimentações de uma potencial vítima de crime… Um novo patamar de paranóia – agora que nos habituámos a que as actividades no computador sejam vistas por terceiros – aproxima-se. Se achar que está a ser seguido não olhe por trás do ombro, levante o queixo. Esta nova realidade voa a tal velocidade que a legislação, mesmo a nível mundial, ainda não conseguiu criar fórmulas para a conter dentro de um território que não ultrapasse os limites do civilizado.
Com o nível de vendas que se atingiu este ano é possível que nos últimos dias tenham aparecido novos pontos no ar, por todo o lado, especialmente em sítios como o Parque das Nações, em Lisboa. Gente a brincar com o novo animal de estimação, que tem tanto de fofinho como de sinistro.
O sucesso comercial foi óbvio. Ao longo de Novembro, a Media Markt, que tem em comercialização 10 modelos distintos, vendeu em média oito drones por dia, 250 ao fim do mês. De acordo com esta cadeia de venda de equipamento electrónico e de electrodomésticos, o negócio acelerou no fim do ano, fazendo crer que, precisamente, grande parte destinou-se a ofertas de Natal. A Media Markt reclama ter sido a primeira cadeia a vender drones em Portugal: tem estes aparelhos disponíveis em todas as lojas desde o mês de Abril. Apenas sete meses depois, em Novembro, já fez uma campanha de descontos ao Phantom, considerado na gíria o kleenex dos drones, de tal forma o modelo mais popular da chinesa DJI se impôs no mercado a nível mundial e entre a multidão crescente de consumidores com um poder de compra médio.
Depois de selfie, dronie
Antes, os drones para uso ‘doméstico’ eram um exclusivo das lojas de aeromodelismo – modalidade que em termos legais ainda os associa, como máquinas voadoras comandadas à distância e, por isso, de um universo muito peculiar, de nicho. Agora saltam das prateleiras de grandes superfícies (também há modelos simplificados para crianças nos retalhistas de brinquedos), já se vendem em lojas de fotografia e continuam a ter como um dos principais pontos de venda o comércio online, esse sem possibilidade de ser contabilizado. A Colorfoto, loja de material fotográfico na zona de Alvalade, mas com venda online, segundo informações do director, José Manuel Silva, vende drones desde o início do ano, cinco por mês, em média.
Em Portugal, não há estimativas globais de vendas. O índice GfK Temax, que analisa o comércio do sector tecnológico, é omisso no que diz respeito a estes aparelhos. Mas, no fim do ano passado, a associação de defesa do consumidor DECO fez a análise comparativa, a sua primeira para estes equipamentos, daqueles que referiu como sendo os dois modelos mais populares, o francês Parrot AR Drone 2.0 e o DJI Phantom FC40. Prova, se tal fosse necessário, que os drones estão a entrar nos hábitos de consumo, como os telemóveis, as câmaras de filmar, ou as Wii’s, no passado. E estão a levar a fotografia a novas fronteiras.
Fotografar do ar passou a ser democrático e acessível ao cidadão comum. É uma realidade que começa literalmente a saltar à vista, havendo inúmeras filmagens aéreas de Lisboa, do Algarve e de todas as maravilhas de Norte a Sul do país colocadas por anónimos no YouTube. Na verdade, já todos nos habituámos a consumir, sem o saber, imagens captadas por estes aparelhos. Muitas reportagens das principais televisões e as filmagens de maratonas ou de jogos de futebol recorrem a estes aparelhos super portáteis em vez da maquinaria pesada que era necessária para a cobertura de grandes eventos. E até já foi feito o primeiro filme pornográfico, Drone Boning, com três minutos de belas paisagens.
O fenómeno é mundial. Um jornalista do Guardian sugeriu que selfie, a palavra do ano 2013, será em breve substituída. Pelo neologismo dronie.
Mas mais do que apenas um hobby, a utilização de drones – o nome mais comum e também mais carregado de conotações bélicas, da sigla que os profissionais preferem, UAV (Unmanned Aerial Vehicle, ou VANT, Veículo Aéreo Não Tripulado) – está a permitir não só novos paradigmas e novos negócios como novas aplicações para velhos ofícios.
Relatório de obras
O arquitecto João Nuno Mendes, residente em Faro, é um dos muitos portugueses que descobriram as virtudes de um drone aplicado ao seu trabalho. No princípio do ano comprou em Sevilha o Phantom 2, que equipou com uma câmara GoPro de alta definição e comprou ainda um kit First Person View (que permite ao operador em terra ver o que o drone está a ‘ver’ no ar ). Tudo não terá atingido os três mil euros, mas é um investimento que está a caminho de ter o break even. Todas as semanas acompanha a progressão de uma obra na Quinta do Lago para enviar as filmagens para o cliente na Irlanda, que assim obtém um relatório visual detalhado da sua casa em construção no Algarve. E com a vantagem de ter imagens carregadas no telemóvel que pode mostrar em ocasiões sociais.
Outra utilização que João Nuno Mendes refere é, por exemplo, para definir o próprio traçado da obra: “Usei o drone para decidirmos a que altura era preciso pôr a janela com varanda para ter uma boa vista”. As aplicações no seu trabalho são infindáveis, mas do ponto de vista pessoal não o são menos. Um passeio de barco na Ria Formosa com os filhos e amigos pode ser documentado com belas filmagens do ar, com planos aproximados e distantes. Com uma qualidade quase National Geographic.
No final de Novembro, a Comercialfoto, grande importador de material fotográfico e de marcas como a Leica e a Sygma, fez a apresentação, com testes, no Complexo Desportivo Carlos Queiroz, em Carnaxide, para retalhistas de equipamento fotográfico, amigos, clientes e imprensa de um novo produto: o Íris+, da 3D-Robotics. É um drone para entrar em concorrência directa com o dominante Phantom, da DJI, no mercado dos pequenos drones (com menos de dois quilos), para o consumidor comum e o fotógrafo amador ou profissional.
Aliás, a concorrência é tão intencional que passou até por um episódio de ‘fuga de cérebro’ que acabou em acordo judicial. Collin Guinn, o responsável pela DJI nos Estados Unidos, e uma figura popular na imprensa especializada em tecnologias de informação, trocou o gigante chinês pela 3D-Robotics. O que lançou para a comunidade de geeks a ideia de que a 3D-Robotics está a lançar tarde o seu primeiro drone (quando a DJI já vai na quinta versão do Phantom e está prestes a lançar o revolucionário Inspire), mas não está nisto para brincar. Na ocasião da apresentação, sem avançar números, João Carlos Pinto, director da Comercialfoto, disse que grande parte do volume dos drones importados já estava colocado nos retalhistas. Na apresentação foi dada formação a muitos vendedores das lojas Instanta, que estão a reservar drones às dezenas.
Para João Carlos Pinto , a grande vantagem do Iris em relação ao Phantom, (“muito massificado” ), é que a introdução em Portugal deste novo quadricóptero será acompanhada de assistência directa, através das lojas de fotografia que o vendam. “Um português nunca lê um manual. E nós estamos a falar de objectos voadores, a responsabilidade aumenta exponencialmente. Não só os fabricantes têm de ter cuidados grandes com a segurança, como quem vende também tem que saber assistir o cliente”, sustenta.
As questões de segurança são, aliás, determinantes. Tanto a DJI como a 3-D Robotics garantem que os seus produtos – que voam através de ligação a GPS (como é comum em qualquer UAV de grande porte) – têm sistemas de checkar condições de voo exigentes que impedem de voar em situações adversas, não saem literalmente do chão em corredores de voo da aviação civil, acima dos 100 metros (limite do espaço aéreo), perto de aeroportos, u em zonas militares, em zonas de acesso restrito.
Toda essa informação está codificada no firmware, são barreiras geográficas processadas de origem e que funcionam para todo o horizonte de países da América do Norte e da Europa, onde há autorização de venda. (Tanto para equipamentos militares como para pequenos drones só é permitida a venda para países da NATO, ou determinados pelas agências governamentais dos fabricantes e os importadores assinam documentos em que se responsabilizam por garantir estas restrições).
Mesmo assim, com os aparelhos com codificações, recentemente, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) alertou para o facto de pilotos terem reportado a existência de drones na aproximação da pista 03 do aeroporto da Portela em Lisboa, a uma altitude de 600 metros. Um susto, apenas. E um aviso à navegação.
Além de porem novos desafios às questões de privacidade, a proliferação destes aviõezinhos ou helicópteros nas mãos de qualquer consumidor colocam sérios problemas à gestão do espaço aéreo. Não há sistema que não possa ser modificado e violado. E isso é um dos maiores medos de todas as autoridades internacionais que se estão a dar conta de que os pequenos drones vieram para ficar. E começam agora a preparar legislação.
Por enquanto, espera-se que o comprador de um drone seja um adulto responsável. “Quando um drone avaria no ar, o que lhe acontece é cair. Felizmente ainda não caiu em cima de ninguém”, explica Augusto Alves da Silva, que diz ter criado há três anos uma das primeiras empresas a fazer filmagens profissionais com drones, a Polycord Filmworks. Entre os seus clientes conta-se a RTP e “‘n’ produtoras”. Augusto Alves da Silva – aka Kiko no seu perfil nas redes sociais – é gestor de um grupo no Facebook de donos do Phantom 2, o ‘DJI Phantom 2 Owners’, com mais de cinco mil membros. Dezenas são portugueses. Um grupo que reúne uma multitude de motivações. Há três semanas, criou a escola de pilotagem de drones Polycord Flight School.
Augusto Alves da Silva defende a ideia de que esta é a fase em que, além de garantir a segurança de pessoas e bens, é preciso começar a separar o trigo do joio. “Ainda há muita gente que compra um drone e anuncia imediatamente que faz filmagens profissionais. E isso é um logro. A recolha de imagens através de um drone é tão exigente como a de uma câmara normal”. E uma pessoa não compra uma câmara e diz que é fotógrafo ou realizador. “O trabalho que faço é como director de fotografia”.
A frota da Amazon
Precisamente há um ano, Jeff Bezos, CEO da Amazon, avisou os produtores do 60 Minutos que iria mostrar uma novidade surpreendente ao jornalista que fazia a reportagem sobre a empresa de venda postal. Tratava-se do maior projecto em curso do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento e consistia em fazer entregas 30 minutos após o pedido em solo americano. Como assim? Através de um serviço por quadricópetros. “Acredito que dentro de quatro a cinco anos isso será realidade”, disse Bezos. O maior problema, considerou, será convencer a FAA (Federal Aviation Administration) a autorizar que no espaço aéreo , mesmo a baixa altitude, centenas de drones circulem para largar pacotes com carga à porta dos clientes, acredita Bezos. “É um maravilhoso mundo novo”, exclamou o produtor do 60 Minutos, imaginando centenas de veículos a cruzarem os céus de Manhattan. E é ou o futuro próximo ou mais uma utopia que não se vai realizar.
Em Portugal, embora seja um facto pouco conhecido, a realidade já é igualmente de ficção científica. Além dos entusiastas anónimos, há várias empresas cuja actividade consiste em 1) fabricar drones, 2) usar drones para vender filmagens, fotografias, ou dados e 3) fornecer um serviço através da recolha de dados de drones que a própria empresa fabrica.
A Spin.Works pertence a este último grupo. O facto de se apresentar na página da internet em inglês – e como uma companhia aeroespacial dedicada ao desenvolvimento e manufactura de aeroestruturas e sistemas não tripulados para os mercados da aeronáutica, espaço e defesa – camufla a origem portuguesa, manifesta apenas em dois aspectos: o domínio de internet ser pt. e, nos contactos, uma morada referir ‘Lisbon’ e outra São João da Madeira.
Em 2006, nascia na fervilhante Shenzhen – a cidade que é uma espécie de Sillicon Valley chinês – a DJI Innovations, que controla neste momento cerca de metade do negócio avaliado em 300 milhões de dólares de pequenos drones para uso privado e que se u prepara para lançar o seu próximo paradigma: o Inspire.
Para se ter ideia de como Portugal não está assim tantos passos atrás, nesse mesmo ano foi fundada a Spin.Works, logo em Janeiro, por um grupo de engenheiros aeroespaciais formados, no final dos anos 90, no Instituto Superior Técnico. Uma das primeiras fornadas do curso, criado poucos anos antes, e que neste momento forma cerca de 90 pessoas por ano, como se a exploração do espaço fosse o novo horizonte para as navegações portuguesas. “Quando entrámos, o curso era muito recente, não havia ainda ninguém licenciado e Portugal não era sequer membro da ESA (a agência espacial europeia). Só seria em 2000”, comenta João Araújo, um desses fundadores. As expectativas de arranjar trabalho estavam ou na OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, entretanto comprada pela brasileira Embraer – ou na divisão de manutenção da TAP. O espaço era uma hipótese para lunáticos.
Os colegas do Técnico passariam quase todos por um período de Erasmus, na Holanda, em Delft, “o que acabou por ser determinante pela ligação que a universidade tem com a indústria num contexto europeu”. E, em cidades e em momentos diferentes, estiveram também na Alemanha e nos Estados Unidos. Em 2006, dois anos antes do crash da Lehman Brothers, reuniram-se em Portugal e criaram uma empresa assente no desenvolvimento de sistemas na área espacial mas, também, virada para a tecnologia dos drones “centrados na área civil”, uma vez que a tecnologia destas duas áreas é parente. Ou seja, ambas usam sistemas de comunicação à distância.
Os drones eram algo que parecia já então ter um grande futuro no mundo e em Portugal. “Há oito anos, isto não era notícia de telejornais, como é hoje, mas já era um área promissora para as pessoas do meio”, diz João Araújo.
Durante estes anos, o fornecimento de sistemas para o espaço, à ESA, foi o principal negócio da empresa que já emprega 15 pessoas. Fizeram equipamentos para estações de solo da Galileu, a rede europeia de satélites, e estão a trabalhar para a ESA, num sistema que permitirá a aterragem em Marte. E é esta ainda a base do negócio, mas o equilíbrio está a mudar.
Finalmente, desde o início deste ano, a Spin.Works começou a olhar literalmente para a Terra. Em 2014 começou a operar os seus pequenos UAV’s no ar, com o projecto de aeronáutica desenvolvido no escritório nas traseiras da Avenida da Liberdade e o avião construído numa fábrica do Norte em polipropileno expandido, o material inócuo e extremamente leve semelhante à esferovite que reveste capacetes e portas de carro.
O ano da revolução: 2014
Desde o início de 2014 – neste ano que já tem sido considerado o da revolução dos drones – a Spin.Works tem trabalhado sobretudo para produtores agrícolas e florestais, voando os seus aviões para recolher fotografias e dados que atestam, por exemplo, o estado das colheitas, ou permitem a detecção precoce de pragas, optimização de fertilizantes, cartas de ocupação em áreas protegidas, cartografia, etc.. “Mas as áreas possíveis para a nossa intervenção são inúmeras”, diz Vasco Pimentel, também fundador da empresa. E sublinha: “Já temos contactos noutras geografias, como a África subsariana”.
João Araújo explica a evolução do mercado: “No início do ano, quando nos apresentávamos, as pessoas não faziam a mínima ideia do que estávamos a dizer. Neste momento há um conhecimento muito maior e já nos procuram com as suas próprias ideias”.
Em geral, o negócio da divisão de UAV’s da Spin.Works é “fornecer a clientes dados e informação que esta tecnologia permite fazer de forma muito mais rentável”. Pôr um avião comandado por um operador em terra para ver propriedades do ar é uma solução radicalmente mais barata que muitas outras que exigem muita mão-de-obra. “Isto começou agora e acreditamos que é um mercado que vai explodir em 2015”, prevê João Araújo.
Financiada por um fundo de investimento que queria apostar na robótica, nasceu em Abril de 2012 a Skyeye. David Mota, um dos sócios, sustenta que a Skyeye foi a primeira empresa de profissionais de prestação de serviço através de UAV’s. O nome da empresa que trabalha com um olho a partir do céu é tão perfeito e óbvio que é possível que a afirmação esteja correcta, ou lá perto.
Embora com 80% dos seus clientes na área dos media – fizeram por exemplo as imagens aéreas do Optimus Alive para a RTP e trabalham em documentários e vídeos para várias produtoras – há um mundo de novas aplicações que a Skyeye está a explorar no mundo civil. Acompanharam as obras na barragem de Foz Tua, fizeram a avaliação na argamassa do Castelo dos Mouros e medições das linhas de alta tensão num parque eólico. “O nosso negócio é identificar o desafio do cliente e ver como esta tecnologia o pode ajudar”, diz David Mota, acrescentando o inevitável “o céu é o limite”. E se fazer filmagens de casamentos já é relativamente banal, David conta que a Skyeye já foi contratada para um pedido de casamento.
Um concorrente mundial na segurança
Embora de capital 100% português, a Tekever é aquilo a que se chama um player mundial no fornecimento de drones exclusivamente para o mercado de defesa e de segurança. Mais uma vez, a este nível, ser português não faz diferença, ser competitivo, sim. Porque neste mercado não se fazem compras ao virar da esquina, e o made in Portugal, importante para o u azeite e os chouriços, na tecnologia é indiferente. “Qualquer força de segurança que queira adquirir drones lança um concurso internacional. E só os mais competitivos, que se consigam impor aos israelitas e aos norte-americanos, conseguem fazer negócio”, sustenta Ricardo Mendes, administrador e sócio fundador da Tekever. “Fazer protótipos e pôr a voar é fácil. Ser competitivo é muito diferente”, resume.
A Tekever fornece drones para as forças de segurança na Colômbia em operações contra o narcotráfico e teve os seus AR4 Light Ray ao serviço da NATO, no Kosovo, numa operação que terminou em Outubro.
Tem igualmente colaborado com as forças de segurança portuguesas. A partir do Verão, os aviões não tripulados da Tekever estarão a sobrevoar o Parque Natural do Gerês, numa missão de patrulhamento, prevenção e detecção precoce de fogos florestais, busca e salvamento e protecção da vida natural, dirigida pela GNR.
É uma experiência que começa no Gerês, diz Ricardo Mendes, mas que poderá ser adaptada a outras áreas delicadas do país. E para a Entidade de Segurança Marítima Europeia, a Tekever vai fornecer aeronaves de “dimensão média, com 150 quilos” que irão fazer o patrulhamento no Atlântico, ao largo de Portugal; no Mar do Norte, ao largo da Grã-Bretanha; e no Mediterrâneo, ao largo de Malta. Será uma missão de vigilância marítima de centenas de horas de voo. “O que é interessante é que é o primeiro projecto deste tipo na Europa e o sistema que ganhou é português”, diz Ricardo Mendes cuja ambição é levar a empresa criada em 2001 a ser das melhores do mundo na área dos UAV’s: “Senão nem tínhamos começado”.
Fundada em 2001 por um grupo de licenciados no Técnico, a Tekever, hoje um grupo empresarial com escritórios no Reino Unido, Brasil, EUA e China, continua na mão dos seus sócios fundadores. Os drones surgiram no entanto tarde na história do grupo que começou originalmente por se dedicar ao desenvolvimento de sistemas na área das tecnologias de informação. E para Ricardo Mendes é a competência na área destes sistemas que poderá levar a Tekever mais alto. “A tecnologia de voo é uma coisa que já está dominada. O que faz a diferença nos nossos produtos são os sistemas de comunicação, o facto de todos os equipamentos poderem entrar em contacto uns com os outros”. É também uma nova utopia que a Tekever persegue, a da evernet, da constante ligação à web, em qualquer sítio, a qualquer altura, apresentada por Ricardo Mendes no Congresso de Drones que no final de Novembro reuniu na Fundação Portuguesa das Telecomunicações estes novos geeks. A ideia de que é possível aceder à informação, sempre. E os drones fazem parte deste mundo.
A música de fundo era a de Missão Impossível. Num canto, a Quarkson exibia imagens do seu Skyorbiter LA 25, um VANTLA, como explica Miguel Ângelo, o sócio maioritário desta empresa também 100% portuguesa, com sede no Barreiro. VANTLA, termo cunhado pela Quarkson, é um ‘Veículo Aéreo Não Tripulado de Longa Autonomia’, e adequa-se ao Skyorbiter, com uns impressionantes 22 metros de envergadura. O Skyorbiter recebe o título pela sua capacidade, completamente inusitada, para estar no ar até duas semanas. Tem cinco módulos que são pequenos aviõezinhos com vários depósitos para o combustível que permitirá uma tão longa operação no ar. Está pronto a ser comercializado, por alguns milhões, tão cedo sejam feitos os testes numa pista no Alentejo.
Neste mundo que atrai gente de diversas áreas, Miguel Ângelo é um autodidacta. Acabou um curso de Gestão no ISEG e há dez anos criou uma plataforma online de software, a Getacoder.com, que permitiu financiar a criação do ‘satélite’. O Skyorbiter, fabricado no Barreiro e desenvolvido ao longo destes dez anos, é, imagina Miguel Ângelo, um bom produto para ser comprado por agências governamentais e servirá sobretudo como uma espécie de satélite de comunicações em baixa altitude, até 3.500 metros, em áreas não cobertas pelas redes existentes, ou por exemplo em vigilância costeira. A ideia de que um gestor criou no Barreiro um equipamento destes é bem sublinhada pela música de Missão Impossível.