Há brincadeiras que são demasiado sérias. Como a 1ª pág. do último Charlie Hebdo, em que aparece Maomé a afirmar-se Charlie e, com a concordância de todos os elementos do jornal satírico, declarar ‘tudo perdoado’. Parece que foi lá que veio a história de Maomé estar a receber os assassinos mortos à porta do Paraíso, com o seu cartaz de ‘sou Charlie’, mandando-os assim naturalmente para o Inferno. E, quando estes perguntaram pelas virgens a que se achavam com direito, explicaram-lhes que estavam ocupadas com os membros do jornal assassinados. De resto, recambiados para o Inferno, qualquer virgem a que ali tenham acesso não deve ser nada desejável, antes parecida com eles, talvez até muito militarizada.
Da Ana Gomes, vi um colunista perdoar-lhe os novos relativismos, com a ideia de que ela é já de si patusca e pitoresca, ainda assim corajosa (mais do que ponderada), sempre que lhe dá para falar. E o PS deixou-a a falar sozinha, como convém à situação. O mesmo colunista foi mais severo com quem acha ser melhor preparado intelectualmente. Claro que as palavras sensatas do Papa Francisco, proferidas no seu avião junto aos jornalistas, contra a ofensa de pessoas e religiões ("todas têm a sua dignidade", frisou), só fazem sentido associadas a outras palavras proferidas na mesma ocasião, segundo as quais nunca se mata em nome de Deus.
Pessoalmente, não me interessa discutir o que o Charlie Hebdo publica. Mas recuso-me a pôr no mesmo saco isso, e as piadinhas racistas e pró assassinas de um Dieudonné.
E, ao ler que representantes islâmicos se insurgem contra as novas provocações do Charlie Hebdo, sinto-me feliz por ser católico – religião que abandonou há séculos essas posturas pró assassinas, deixando-as apenas para alguns grupos fundamentalistas católicos (precisamente, os menos cristãos, alguns dos quais até um Índex pós Vaticano II mantêm).