Para responder a estas perguntas – ou melhor, para tentar começar a responder-lhes – é preciso refrear a histeria que vem do medo e a euforia que vem da superação do medo. Ambas conduzem à simplificação maniqueísta de ignorar ‘o outro’ e as suas razões, para apenas pensar na sua eliminação.
O moderno jihadismo é constituído por um conjunto de movimentos clandestinos armados, e agora também pelo chamado ‘Estado Islâmico’, inspirados no reformismo integrista, de origem salafista. O jihadismo proclama a guerra santa como uma obrigação do crente, sempre que as terras do Islão sejam ocupadas, as gentes do Islão ameaçadas e os princípios do Islão pervertidos ou traídos. Para os jihadistas, só os ensinamentos do Alcorão, os hadiths (tradições) do profeta e as memórias dos primeiros califas são fontes da verdade. Quando os clérigos oficiais se afastam deles, devem os crentes desobedecer-lhes.
Modernamente, os referenciais e inspiradores desta linha são os Irmãos Muçulmanos, cujos doutrinadores e líderes, Hassan al-Banna e Said Qutb, acabaram presos e executados pelo regime militar egípcio. Os rebeldes do Ikwan dos anos 20 e os atacantes da Grande Mesquita em 1979, na Arábia Saudita, pertencem também a este sunismo integrista e contestante.
Foi a partir destas bases teóricas e experiências políticas que Osama Bin Laden e a al-Qaeda justificaram o seu activismo revolucionário: à guerra contra os soviéticos no Afeganistão, sucedeu a guerra contra os americanos e os ataques do 11 de Setembro de 2001; e, depois, uma longa lista de acções em Madrid e em Londres contra cristãos e judeus mas também – e maioritariamente – contra muçulmanos e em terras muçulmanas, atingindo xiitas, dirigentes considerados apóstatas e aliados dos infiéis e dos ditos ‘cristãos e judeus’.
Bin Laden rompeu com a Casa de Saud a seguir à invasão do Kuwait, quando o Rei Fahd aceitou os americanos no reino. A Casa de Saud, como os governos da maioria dos Estados islâmicos, passaram a ser o inimigo próximo, cúmplices do ‘inimigo distante’, o Ocidente.
Mas se o ponto de partida de toda esta guerra é uma metapolítica quase escatológica, a execução das suas operações obedece a linhas estratégicas bem definidas. André Glucksmann, no seu Dostoiévski em Manhattan, compara os chefes desta ofensiva a Stravogin e aos niilistas retratados nos Possessos e, como eles, possuídos por uma fúria caótica. Mas, quanto à execução, estará mais perto da verdade René Girard, quando aplica à guerra jihadista contra a América a teoria da ‘rivalidade mimética’. Para o autor de La Violence et le Sacré, Bin Laden e os seus querem juntar e mobilizar ‘sob a bandeira do Islão’ todo o terceiro mundo e as vítimas do Ocidente, mas fazem-no segundo uma lógica ocidental e usando meios ocidentais; imitando, não apenas os processos de comando, controle e subversão, mas a própria causa para agir.