Charlie Hebdo resgata Hollande

A passagem de François Hollande pelo Palácio do Eliseu está destinada a ficar na história: o socialista passou do mais impopular Presidente francês de sempre ao que mais rapidamente subiu na história dos estudos de opinião em França, revela a última sondagem da Ifop.

Charlie Hebdo resgata Hollande

Trata-se de uma “subida histórica”, garante o director do centro de pesquisas. O trabalho de François Hollande foi considerado positivo por apenas 19% dos eleitores questionados em Setembro, no último estudo da Ifop. Agora, no rescaldo dos ataques terroristas de Paris, o Presidente é apreciado positivamente por 40% dos inquiridos, subindo assim 21 pontos percentuais.

Damien Philippot, director de Estudos Políticos na Ifop, é citado pela Newsweek garantindo que a subida de Hollande “bate o recorde previamente detido por François Mitterrand, que ganhou 19 pontos percentuais no dia seguinte ao início da Guerra do Iraque em 1991”. Já o director do centro de pesquisas garantiu à Sud Radio que este é “o fenómeno mais raro na história dos estudos de opinião”.

Recorde-se que Hollande não tinha uma aprovação de 40% desde Fevereiro de 2013, quando cumpria apenas o nono mês do mandato. Em Setembro, o estudo da Ifop indicava que o desgaste de Hollande era tal junto do eleitorado, que o Presidente era o único adversário que perderia numa segunda volta das presidenciais contra a líder da extrema-direita, Marine Le Pen (54% de Le Pen contra 46% do socialista). A mesma sondagem mostrava que tanto François Fillon como Alain Juppé, antigos primeiros-ministros do centro direita, e o ex-Presidente Nicolas Sarkozy conseguiam vencer a líder da Frente Nacional numa hipotética segunda volta. Nesse momento, oito em dez eleitores que se confessavam socialistas apelavam à realização de eleições primárias no partido de forma a evitar que Hollande se recandidatasse em 2017.

Mas os ataques ao Charlie Hebdo e a um supermercado judeu da capital francesa fizeram renascer a figura de Hollande junto do eleitorado. Agora 49% dos eleitores aprovam o lado “solidário” do Presidente, 46% consideram-no um bom “protector dos interesses do país” e 39% dizem que Hollande é “sincero”. Números que representam subidas em todos parâmetros, embora haja ainda números preocupantes: apenas 20% consideram Hollande suficientemente “autoritário”, o que ainda assim representa uma subida de 9 pontos percentuais. 

Significativo é também o facto de os eleitores escolherem agora Hollande à frente de Le Pen e Sarkozy quando são confrontados com um hipotético voto em presidenciais: o socialista recolheria 40% dos votos, contra 29% da extrema-direita e 26% do antigo Presidente que no final de 2014 voltou à liderança da União por um Movimento Popular (UMP). “O Presidente foi bem-sucedido a unir o país e ao consegui-lo pareceu mais presidencial do que os outros”, explicou Philippot.

Outro estudo, da Harris International, confirma a tendência ao mostrar que 60% dos inquiridos confiam em Hollande para combater o terrorismo. Apenas 51% gostavam de ver Nicolas Sarkozy com a tarefa, enquanto 33% optavam por Marine Le Pen.

Quem também ficou bem visto pelo eleitorado foi o primeiro-ministro Manuel Valls, que já antes dos ataques terroristas era considerado o político mais popular de França. Valls é agora aprovado por quase dois terços do eleitorado (61%), a sua maior marca desde que assumiu a chefia do Governo em Março de 2014.

O estudo da Ifop concluiu ainda que a popularidade dos socialistas aumentou mais em Paris do que em qualquer outra região francesas, assim como demonstra que Hollande continua a recolher mais apoios entre o eleitorado masculino do que entre as mulheres.

nuno.e.lima@sol.pt