Mas os muçulmanos são os que temos, e não há volta a dar-lhe. Poucos terão sido os que se manifestaram contra a barbaridade cometida em Nova Iorque, nas Torres Gémeas.
O Presidente do Níger até foi a Paris, à Marcha do ‘Je Suis Charlie’. Mas na terra dele, uma multidão enfurecida desatou a atacar cristãos e a incendiar bairros, templos e casas, por causa do Charlie Hebdo. E o fogo da irracionalidade violenta espalha-se por todo o mundo muçulmano, até à Tchetchénia.
Poderia concordar com a ideia de que a liberdade de expressão deve respeitar os sentimentos aceitáveis (que nunca são todos, e portanto a cedência nunca é suficiente) dos outros. E já estava à espera que a necessidade de uma suposta originalidade trazida pelos ares dos tempos trouxesse um contra-movimento ao ‘je suis Charlie’.
Mas o drama dos muçulmanos é que vivem entre regimes despóticos supostamente mais laicos (como os de Sadam, Kadafi ou Assad), e os ostensivamente religiosos e fundamentalistas (como os do alegado Califado, dos ayotollahs ou da igualmente absurda Monarquia saudita). E quando se remove um, logo o outro, igualmente mau, ou pior ainda, lhe ocupa o lugar. O problema é esse: os muçulmanos seguem mais o mau exemplo dos seus regimes, do que a boa leitura do Corão.
De resto, como afirmou o Padre José Tolentino de Mendonça, poeta e académico, a fé vive de dúvidas – a não ser quando é fundamentalista. Mas o problema é que a fé fundamentalista mais enraizada politicamente hoje é a muçulmana.
Por isso, na própria França que marchou contra os radicais integristas muçulmanos, diz-se que nas escolas, os miúdos muçulmanos recusaram o minuto de silêncio pelas vítimas assassinadas. O problema é mais grave do que gostaríamos de admitir. Ainda por cima, a História mostra que as civilizações mais atrasadas e violentas se impõem quase sempre às sofisticadas. Neste caso, resta-nos esperar que a violência, pelo excesso de estupidez e brutalidade, não consiga impor-se enquanto não mudar. Porque já se viu que a eficácia ou vontade de combater barbaridades como o Boko Haram ou o dito Califado não são muitas.