Vhils, até ao espaço

No molhe da Senhora da Guia, em Vila do Conde, o rosto de Valter Hugo Mãe esculpido sobre betão promete captar a atenção dos que lá passam, seja para olhar o mar ou para se fazer a ele, como os pescadores de Caxinas, onde o prémio Saramago 2007 cresceu. Os responsáveis pela homenagem ao escritor…

Valter Hugo Mãe é uma das personagens do documentário que conta a história de um jovem brasileiro, Giovanne Brisotto, 28 anos, a quem foi diagnosticada uma doença com ADN português, a paramiloidose familiar ou doença dos pezinhos. Ao longo de uma viagem de 56 mil quilómetros à volta do mundo, a bordo de um navio que zarpou este domingo de Lisboa rumo a Cochim, na Índia – numa reconstituição do percurso dos portugueses que disseminaram a doença pelo globo há 500 anos -, Giovanne vai deparar-se com sete arquétipos, como o juiz espanhol Baltazar Garzón, a figurinista japonesa Emi Wada ou o músico islandês Hilmar Orn Hilmarsson, além de Valter. Por confirmar estão os convites do realizador ao Papa Francisco ou a Dilma Rousseff.

Alexandre Farto, 27 anos, que no ano passado bateu o recorde no Museu da Electricidade com a mostra Dissecação, vista por mais de 65.600 visitantes, e que terminou o ano na lista da revista Forbes dos sub-30 de sucesso mundial, ao lado de Cristiano Ronaldo e da investigadora Maria Nunes Pereira, fará o retrato de cada um dos sete personagens de O Sentido da Vida nos seus países de origem.

“O filme pretende funcionar como uma cápsula do tempo, um retrato do mundo esquizofrénico em que vivemos, um mundo que está numa profunda mutação. É nesse sentido que o trabalho do Vhils é extraordinário porque, tal como o cinema, cristaliza e imprime uma memória – neste caso um retrato – que durará apenas o tempo que os elementos permitam”, explica o realizador ao SOL.

Entre os personagens (ou arquétipos) está um astronauta da Agência Espacial Europeia, o dinamarquês Andreas Morgensen, que parte em Setembro para a Estação Espacial Internacional. Neste caso, tanto Miguel Gonçalves Mendes como Vhils vão tentar que o retato seja feito no espaço. “Seria provavelmente a primeira obra de arte no espaço sideral”, nota o realizador de Autografia (2004), Floripes (2007) e José e Pilar (2010), que conta para O Sentido da Vida com a co-produção da O2 Filmes, do realizador brasileiro Fernando Meirelles, num filme orçado em 1,5 milhões de euros.

No final de 2014, e já depois de conhecido o videoclip da autoria de Vhils para os U2, a CCN esteve em Lisboa para incluir o artista num programa sobre estrelas em ascensão a ter debaixo de olho (Ones to Watch, nome do programa em inglês), já emitido pela cadeia de televisão norte-americana. Depois do reconhecimento nacional e internacional, com trabalhos espalhados por cidades como Londres, Moscovo, Bogotá, Nova Iorque ou Los Angeles, Vhils arrisca ser o primeiro artista a ir ao espaço para fazer uma intervenção.

ricardo.rego@sol.pt