Antes de se converter ao Islamismo, jogou em vários clubes da linha de Sintra e apresentava-se pela sigla de FP7, em alusão ao ídolo CR7. Conta quem o viu jogar que era um avançado com bom físico, mas nunca aguentava muito tempo em cada clube. Queria entrada directa nos grandes palcos. Em 2011, com 19 anos, decidiu emigrar para Londres, sozinho, com o intuito de jogar num dos grandes clubes ingleses. Em vez disso, actuou pelo UKFF Football Club, um emblema de caça-talentos.
FP7 partilhava no Twitter a sua motivação e os seus objectivos a cada novo jogo: “Talento? Eu tenho… Herdei-o das minhas raízes. Plantei a semente, agora colho os frutos”. Afirmava querer tornar-se uma lenda do futebol, mas em Março de 2013 tudo começou a mudar. “Preciso de uma mudança”, disse a meio do mês. Mais tarde anunciaria que tomara a decisão da sua vida e, em Outubro de 2013, apareceu no Facebook, já na Síria, dando conta da sua nova vida: “Cheguei há duas semanas a Shaam [Grande Síria], Alhamdulillah, este país é maravilhoso. A Jihad é a única solução para a Humanidade”.
Fábio está agora no Norte da Síria, em Minbij, com as suas três esposas. Uma delas, Ângela, é portuguesa. Vivia com a mãe na Holanda quando conheceu Fábio pela internet e decidiu fugir para a Síria. Casaram e têm um filho. Também mudou de nome. Chama-se Umm. Não está na frente armada, mas é responsável pela promoção do Estado Islâmico na internet. Fábio, por sua vez, é um combatente. Começou por lutar no Exército dos Estrangeiros e hoje é um treinador militar. Garante ter formado mais de mil recrutas em apenas três meses. Numa entrevista à Sábado, publicada a 9 de Outubro do ano passado, garantiu que “matar é fácil” e que não teria problemas em assassinar a sua própria família portuguesa se esta lutasse contra o Islão. Também sonha em voltar à Europa com uma a bandeira islâmica numa mão e uma arma na outra.
O falso Diarra
Celso Rodrigues da Costa é outro jihadista português que está com Fábio na Síria. Também saiu de Portugal rumo a Londres com o sonho de ser jogador de futebol. Os dois conheceram-se em Leyton, leste da capital inglesa. Nos primeiros dias de Abril do ano passado, o portal FiSyria.com, conotado com a guerrilha da Al-Qaeda em território sírio, publicou um vídeo com um homem de rosto tapado e uma espingarda automática AK-47, que se apresenta como Abu Isa Andaluzi: “Ele jogou pelo Arsenal de Londres e deixou o futebol, o dinheiro e o modo de vida europeu para fazer o caminho de Alá”, podia ler-se no texto que acompanhava o vídeo.
Circularam rumores de que este homem podia ser o internacional francês Lassana Diarra, que representou vários clubes ingleses, entre os quais Arsenal, Chelsea e Portsmouth, além do Real Madrid. O médio francês viu-se obrigado a vir a público afirmar que nunca esteve na Síria e que não tinha qualquer ligação à jihad.
A 16 de Abril, o jornal The Guardian publicava que os serviços secretos britânicos tinham apurado a verdadeira identidade de Andaluzi. Tratava-se de Celso, cidadão português de origem africana. O Arsenal admitiu apenas que o homem em causa possa ter participado em treinos de captação dos juvenis, mas não mais do que isso: “Não reconhecemos o indivíduo e não temos nenhum registo de um senhor Celso Rodrigues da Costa a representar o clube a qualquer nível”.
Fábio garante que Celso o acompanha no Norte da Síria e que os dois estão quase sempre juntos. Há pelo menos 12 portugueses integrados nas fileiras do Estado Islâmico do Iraque e da Síria. A maior parte tem menos de 30 anos e converteu-se ao islamismo nos países da Europa onde cresceu. No caso de Fábio e Celso há outra coincidência: ambos trocaram as chuteiras pela espingarda kalashnikov.