Como será o regresso de Last Week Tonight with John Oliver? “Basicamente mais do mesmo”, diz o seu autor, que no trailer de apresentação vai descartando todas as hipóteses de abrilhantar o show. Este ‘mais do mesmo’ já deverá chegar para lhe garantir pelo menos as audiências que atingiu em 2014: uma média de 4 milhões de espectadores em directo e cerca de mais dois milhões no dia seguinte. No YouTube estão acessíveis todos os programas pelo que é fácil perceber o mérito de Oliver.
O Last Week Tonight estreou-se no dia 27 de Abril e desde o início tornou-se a conversa da semana. No primeiro episódio, Oliver teve como convidado o general Keith Alexander, o ex-director da NSA, obrigado a lidar com o assunto extremamente sério de tentar salvar a reputação da agência de segurança norte-americana acusada por Edward Snowden de ilegalmente guardar as comunicações telefónicas dos norte-americanos. E Oliver perguntou-lhe se ele gostaria de rebaptizar a NSA para Mr. Tiggles, mostrando a foto de um gatinho escondido numa galocha.
O que Last Week Tonight veio provar é que não é mais do mesmo, embora provenha da matriz do Daily Show de Jon Stewart. Só que enquanto Stewart, e todos os seus afilhados, como Stephen Colbert, limitam-se a ridicularizar personagens e apontar falhas na actividade política, Oliver vai bastante mais longe. É “agitação política” e, com muita frequência, como notam alguns comentadores, é jornalismo acutilante como já não se via há muito nas televisões.
O velho Oeste moral
Não sendo a HBO televisão comercial, há muito mais liberdades que são permitidas. “A HBO é o velho Oeste moral”, explica John Oliver e ele, sendo um cidadão britânico, como outsider, goza de uma imunidade superior ao de um nativo americano. Em 24 episódios, num registo provocador, com o seu sotaque inglês, Oliver atingiu vários alvos: a vedeta da televisão Mehmet Oz, que defendeu a existência de comprimidos ‘milagrosos’ para emagrecer; a General Motors, por pôr em risco a vida dos condutores dos seus veículos, as muitas agências de empréstimos, o Miss América, não só por ser ridiculamente irrelevante, como por invocar falsamente que atribui anualmente 45 milhões de dólares em bolsas de estudo para as candidatas. O que ele faz é jornalismo de investigação sob a capa de comédia, mas não existe um agenda, nem de direita, nem de esquerda. O objectivo declarado é levar o cidadão comum a esmiuçar assuntos embrulhados numa camada de névoa e seriedade, desmascarar os bad guys e mandar toda a gente à fava, se for preciso.
Entretanto, diz-se, Oliver levou a comédia política a um novo patamar e quebrou as barreiras entre jornalismo e comédia. Um híbrido que ainda não encontrou um género onde se inscrever. Comédia de investigação é uma das hipóteses. Há um jornalista formado na velha escola do New York Times entre a equipa do Last Week Tonight.
Sem nunca ter posto os pés nos Estados Unidos antes, Oliver foi contratado por Jon Stewart, em 2006, para ser um dos correspondentes estrangeiros das fake news do Daily Show, graças a uma recomendação de Ricky Gervais, que também não o conhecia pessoalmente. Gervais, um comediante de riso exigente, seguia o programa de rádio Gash. Durante estes anos, além da colaboração com Stewart, John Oliver apareceu em séries de televisão e manteve o seu trabalho na rádio, incluindo The Bugle, cujos podcasts são copiados 500 mil vezes por mês.
No Verão de 2013, enquanto Jon Stewart gozava de uma licença para realizar Rosewater (filme em exibição em Portugal), Oliver ocupou-lhe a cadeira. Foram oito semanas que mudaram a vida ao comediante inglês. Toda a gente reparou neste britânico com um ar um bocadinho totó e um sentido de humor exuberante. A HBO reparou ainda mais e ofereceu-lhe um ‘mini-programa’ a seguir à ultra popular série Guerra dos Tronos. Logo a seguir estendeu-lhe um contrato para um programa em seu próprio nome, com carta branca para ir tão longe quanto quisesse.