David Gomes, que vai avançar com acção judicial contra a unidade hospitalar por negligência médica, referiu à agência Lusa que a mãe "nunca rejeitou" anteriormente a outra terapêutica para combater a doença hepática, ao contrário do afirmado hoje pelo Hospital Egas Moniz, em comunicado.
"Isso é uma profunda mentira. Os efeitos secundários são muitos grandes e a minha mãe nunca rejeitou, mas nunca conseguiu concretizar o tratamento. Mais do que uma vez, ela tentou fazer os tratamentos e não os acabou", afirmou.
No entender de David Gomes, a unidade hospitalar da capital "quer fugir às responsabilidades".
"Desde 2008, foi-lhe proposta, por várias vezes, a terapêutica convencional com resultados muito favoráveis para o genótipo que a doente apresentava, terapêutica esta que a doente sempre recusou, tendo a doença evoluído, sem tratamento específico durante cerca de seis meses", referiu o Hospital Egas Moniz, no comunicado enviado à Lusa.
O hospital esclareceu ainda que a doente apresentava um quadro de doença hepática "muito avançada, com prognóstico reservado, em 2014", ano em que esteve internada por sete vezes.
O filho da doente vincou que a questão "não tem a ver com o tratamento agora em causa", no Hospital de Santa Maria – para onde foi encaminhada a doente, em estado crítico, a 28 de Janeiro -, uma vez que disse desconhecer por que não foi administrado "o medicamento" [Sofosbuvir].
"Desde Fevereiro de 2014 que a minha mãe está ao cuidado dos hospitais, primeiro no Hospital Egas Moniz e, nesta fase final, no Hospital de Santa Maria. Desde Janeiro do ano passado que o medicamento está disponível", referiu.
Sem saber quem "foi o responsável por não ter sido dado o medicamento", David Gomes referiu que se pretende "afastar a morte" da mãe, criando "um assunto que é falso, que é a terapêutica alternativa".
"O medicamento cura a 95 por cento e é disponibilizado para os estados mais graves. Não sei por que não o foi para a minha mãe", acentuou David Gomes, que teve hoje uma audiência com o ministro da Saúde, Paulo Macedo, que lhe transmitiu que a morte será investigada.
David Gomes estranhou ainda que a farmacêutica Gilead tenha afirmado que a doente podia ter sido tratada com o medicamento sem qualquer custo para o Estado.
"Por que não lhe deram o medicamento? Quem é o responsável?", questionou David Gomes.
A farmacêutica disse que o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental enviou à Gilead, a 04 de Novembro do ano passado, pedido de acesso ao medicamento sem custos, embora sem enquadramento legal para o fornecimento naquelas condições.
A Gilead garantiu que nunca recebeu nota de encomenda do fármaco, mas que o disponibilizou para a doente.
A 31 de Dezembro do ano passado, a Autoridade do Medicamento explicou que o fornecimento do medicamento se enquadrava num novo regulamento relativo ao programa para acesso precoce a fármacos sem custo para o Serviço Nacional de Saúde.
Lusa/SOL