João Paulo Rodrigues: “A minha carreira mudou quando pus uma minissaia e um bigode”

      

O dia de João Paulo Rodrigues começa antes do sol nascer. Às sete e vinte da manhã já está a entrar no estúdios da SIC para preparar o 'Queridas Manhãs', que apresenta ao lado de Júlia Pinheiro. Numa pequena sala junto à redacção e produção do programa, o apresentador volta a passar os olhos pelo guião sempre de headphones nos ouvidos. Às oito, na reunião com toda a produção, afinam-se os últimos pormenores sobre o alinhamento. Segue-se a maquilhagem, a escolha da roupa e, pouco antes das dez, o apresentador está em estúdio para dar início ao programa.

“O segredo é ser exactamente aquilo que és fora daqui, com os amigos e família. Foi isso que aprendi, foi esta a minha viagem”, diz este nativo de Braga, para quem tudo parece ser simples e divertido.

A 'viagem' de que fala começou longe das câmaras. Mais precisamente num bar do Porto, o Púcaros, onde, em Fevereiro de 1999, começou a fazer espectáculos de stand-up comedy, a convite de um dos empregados do bar, o actual humorista Rui Xará.

“Um ano depois, era um dos maiores sucessos da noite do Porto. Num sítio que tinha capacidade para cem pessoas, juntavam-se quase seiscentas. Acho que descobri aí que tinha jeito para fazer os outros felizes”, recorda o humorista.

Foi num desses espectáculos que João Paulo conheceu o futuro 'sócio' Pedro Alves, que o convidou a participar no seu programa das manhãs da Rádio Nova Era. Numa dessas manhãs, os comediantes criaram espontaneamente as duas personagens que os tornariam conhecidos: “O Zeca Estacionâncio é um arrumador de carros do Porto, que se mete com toda a gente – uma personagem que o Pedro já tinha criado antes de me conhecer. Depois criámos o Quim Roscas, um parolo que vinha da aldeia e que era primo do Zeca”.

Seguiram-se espectáculos por todo o país, que incluíam stand-up e canções escritas pelos comediantes. “As personagens ganharam um mediatismo terrível nessa altura. Tínhamos espectáculos todas as noites, chegou a um ponto em que só não trabalhávamos ao sábado”.

Hoje, a dupla continua a dar espectáculos de Norte a Sul do país. Um dos seus vídeos de stand-up, gravado num espectáculo ao vivo de 2010, tem mais de um milhão de visualizações no YouTube.

O sucesso do Quim Roscas e do Zeca Estacionâncio chegou aos ouvidos de Teresa Guilherme, que os testou como concorrentes de um concurso de anedotas e, posteriormente, os tornou parte do elenco do Um, Dois, Três. As novas personagens, Quim e Zé, oriundos de Curral de Moinas, vestiam a preceito com um capote, sotaque do Norte, 'monocelha' (ou seja, as duas sobrancelhas unidas) e faces rosadas.

Já n'A Praça da Alegria criaram o 'TeleRural', um noticiário regional sobre Curral de Moinas. A rubrica acabaria por tornar-se um programa de sucesso do horário nobre da televisão pública.

Em 2011, depois de uma pausa de cerca de um ano e meio, João Paulo Rodrigues regressava ao pequeno ecrã, com o programa da TVI 'A Tua Cara Não Me É Estranha'. Desta vez na pele de Freddy Mercury. “Lembro-me que a reacção das pessoas quando me viram foi de gargalhada. Estavam habituadas a ver-me de personagem cómica e eu decidi levar isto muito a sério e cantei o melhor que sabia. Foi dos melhores momentos da minha vida”.

A sua carreira tinha mudado da noite para o dia. O facto de se tornar uma cara conhecida do grande público potenciou os espectáculos com Pedro Alves. “Costumo dizer que a minha carreira mudou quando eu vesti uma minissaia e pus um bigodezinho”.

Depois de vencer a primeira edição do 'A Tua Cara Não Me É Estranha', continuou na TVI como apresentador do 'Não há Bela sem João', ao lado de Marisa Cruz. Foi a primeira vez que surgiu em televisão sem quaisquer adereços. “Só a simples ideia de estar num registo sério, fico logo cheio de tiques e a gaguejar. Eu sempre me protegi nas personagens”. Uma ansiedade que voltou a experimentar quando, juntamente com Júlia Pinheiro, tomou as rédeas das manhãs da SIC. “Nos primeiros cinco meses, houve noites em que nem dormi mais com a antecipação. Era uma luta constante comigo mesmo. O meu grande exercício foi descontrair, deixar de pensar em mim e fazer as coisas instintivamente. E só agora estou a chegar a esse ponto”.

João Paulo Rodrigues passou também pelo cinema, ao participar no filme de Nicolau Breyner '7 Pecados Rurais', com o qual venceu o Prémio Áquila de Melhor Actor Principal. Mas curiosamente aquilo que mais o preenche é cantar. “É o que me arrepia, é o que eu quero sempre fazer”. Por isso, no estúdio do 'Queridas Manhãs', o apresentador tem a sua guitarra sempre à mão. Nunca se sabe quando vai surgir uma oportunidade para a usar.

rita.porto@sol.pt