Desde 2007 que Bruxelas não previa crescimento para todos

A Comissão Europeia reviu hoje em alta as suas previsões económicas, estimando que, pela primeira vez desde 2007, se registe crescimento do PIB em todos os Estados-membros da União Europeia já este ano, que se reforçará em 2016.

As previsões de inverno do executivo comunitário hoje apresentadas em Bruxelas são mais optimistas que as de outono, divulgadas há três meses, com Bruxelas a prever agora que a economia cresça este ano 1,7% no conjunto da UE e 1,3% na zona euro, "acelerando" no próximo ano para os 2,1% e 1,9%, respectivamente.

O executivo comunitário — que em Novembro projectava crescimentos mais modestos (de 1,5% na UE e 1,1% na zona euro este ano) — assinala que "as perspectivas de crescimento na Europa ainda estão limitadas por um ambiente de investimentos fraco e desemprego elevado" mas sublinha que, desde o outono, vários desenvolvimentos melhoraram as perspectivas a curto prazo.

Segundo Bruxelas, desenvolvimentos nos últimos meses como a queda dos preços do petróleo, a depreciação do euro, a flexibilização quantitativa anunciada pelo Banco Central Europeu e o plano de investimentos anunciado pela Comissão são "factores que devem ter um impacto positivo no crescimento", e que justificam que, pela primeira vez desde o início da crise financeira e económica, seja de esperar já este ano um crescimento das economias de todos os Estados-membros da UE.

A "Comissão Juncker" ressalva, no entanto, que deverão manter-se as divergências a nível dos desempenhos económicos entre os países da UE — o crescimento variará entre os 0,2% na Croácia e os 3,5% na Irlanda -, e adverte que os riscos de uma deterioração da situação económica persistem, tendo mesmo aumentado a incerteza, face a tensões geopolíticas, volatilidade renovada dos mercados financeiros e implementação incompleta de reformas estruturais.

As previsões de inverno de Bruxelas também apontam para um aumento do ritmo da criação de postos de trabalho, mas adverte que o crescimento económico deverá ser ainda assim insuficiente para melhorar significativamente as condições do mercado de trabalho, pelo que a taxa de desemprego continuará a recuar a um ritmo lento em 2015 e 2016, mantendo-se em valores muito acima daqueles verificados antes da crise.

De acordo com as projecções de hoje, a taxa de desemprego deverá recuar este ano para 9,8% na UE e 11,2% na zona euro, baixando em 2016 para os 9,3% no conjunto da União e para os 10,6% nos países da moeda única.

Já ao nível da inflação, deverá continuar a "cair" este ano, atingindo valores muito baixos, de -0,1% na zona euro e 0,2% na UE, antes de subir em 2016 para valores na ordem dos 1,3 e 1,4%, respectivamente, à medida que a actividade económica se vai reforçando e os salários aumentando.

Num primeiro comentário a estas novas previsões, o comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, observou que o panorama é hoje um pouco mais optimista relativamente às previsões de outono, com a queda dos preços do petróleo e um euro mais barato a constituírem bálsamos para a economia europeia, mas advertiu que "ainda há muito trabalho duro pela frente" para garantir a criação de postos de trabalho para milhões de europeus actualmente no desemprego.

Segundo Moscovici, o plano de investimento para a Europa anunciado pela "Comissão Juncker" e as importantes decisões recentemente tomadas pelo BCE ajudarão a criar um ambiente mais favorável à consecução de reformas e políticas orçamentais inteligentes.

"A implementação cabe agora aos Estados-membros. E será aí que os nossos resultados serão julgados", disse por seu turno o vice-presidente da Comissão para o euro, Valdis Dombrovskis.

Lusa/SOL