No seu último artigo do DN, Sérgio Figueiredo, então administrador da Fundação EDP, faz uma análise brilhante e sucinta sobre a representatividade do turismo em Portugal. Refere, entre outras questões, que a actividade cresce em tempos de crise. E que a nova economia que agora se desenvolve não está assente em elementos disruptivos, mas sim na inovação e na criatividade de elementos que sempre foram estruturais, como a gastronomia, o património, a hotelaria, a restauração, entre outros. E termina, referindo que se toda a economia estivesse como o turismo, a agenda de Portugal não estaria cheia de cortes e sacrifícios.
De facto, assistimos a um crescimento notável no turismo que, no meu entender, é revelador de alguns princípios e preocupações relacionadas com a própria sustentabilidade da actividade. Até aqui parece-me bastante construtivo e aliciante, para qualquer aluno que escolhe frequentar um curso nesta área. Mas será assim? Infelizmente a actividade turística tem padecido, ao longo da história, de uma clara falta de reconhecimento por parte de todos nós. Foi apenas, com esta histeria colectiva à volta dos números e dos prémios, que muitos começaram a olhá-la de forma diferente.
No entanto, permanecem algumas formas 'menos boas' de interpretar a actividade turística, que persistem em algumas mentalidades.
A primeira, e a mais basilar, refere-se à falta de reconhecimento como uma área de estudo no momento de escolha da prossecução de estudos. Não tenhamos ilusões, se questionarmos um pai ou uma mãe se preferem que o(a) filho(a) tire um curso superior nas áreas científicas tradicionais ou na área do turismo, sabemos a resposta. Mesmo sabendo que as áreas ditas tradicionais servem, em muitos casos, apenas para a obtenção de um canudo;
Segundo o CES (2013), desde o início da crise global o nosso país perdeu um em cada sete empregos – a mais significativa deterioração do mercado de trabalho entre os países europeus, depois da Grécia e de Espanha. Se pensarmos no papel do ensino superior, a falta de um sistema de aprendizagem em contexto de trabalho, a falta de parcerias entre o ensino e as empresas ou a falta de estágios curriculares (reais) poderia ajudar a reinterpretar a actividade. Mas o contrário também se aplica. As empresas deveriam reconhecer no ensino superior uma das fontes de inovação para os seus produtos.
Por outro lado, no mercado de trabalho as áreas do turismo continuam a ser menos bem remuneradas. É um mal que permanece no turismo. Apesar de conhecermos os números que caracterizam a actividade, continuamos sem perceber a razão pela qual estas áreas continuam a sofrer desta insuficiência. Das duas uma: ou os números do turismo estão errados ou…
A bem da verdade, muito se tem feito relativamente à actividade e sem dúvida que o resultado está à vista de todos. No entanto, estes pontos que referi (entre outros) não contribuem favoravelmente para o reconhecimento que o turismo já há tanto merece. Neste sentido, seria interessante começar o ano com esta reflexão (entre outras tantas!).
Bom ano novo!
*Directora do Departamentode Turismo
Grupo Lusófona