Apesar de oficialmente designado como Convento de Santa Maria do Bouro – nomeadamente no diploma que, em 1958, o classifica como Imóvel de Interesse Público -, trata-se de um antigo mosteiro, agora com ofício de pousada. De facto, a primitiva construção era uma ermida dedicada a S. Miguel, construída por monges beneditinos no sítio onde, guiados por uma luz, encontraram uma imagem da Virgem Maria. Essa ermida passou depois a mosteiro, com a doação por D. Afonso Henriques do couto aos monges beneditinos.
Em 1195 o mosteiro troca a regra beneditina pela de Cister e vem a revelar-se de extrema importância na crise de 1383-85 quando o abade de Bouro, tomando o partido do mestre de Aviz, junta 600 homens para defender a fronteira da Portela do Homem e aí derrota as tropas galegas.
O mosteiro continuou adstrito à Ordem de Cister até à extinção das ordens religiosas, em 1834 – momento em que a igreja foi desagregada dele e passou para a paróquia. O mosteiro foi então abandonado e depois vendido em hasta pública.
Portanto, o edifício sempre foi ocupado por ordens religiosas com votos monacais de clausura e vida contemplativa – pelo que sempre foi mosteiro! De onde lhe veio a designação de convento? Não faço a mínima ideia!… Mas não é relevante, porque também esta denominação começa a cair em desuso, substituída pela de pousada – Pousada de Santa Maria do Bouro.
Em 1986, a Câmara Municipal de Amares adquiriu as ruínas do mosteiro e doou-as ao Estado, sendo o edifício adaptado a pousada, num projecto do arquitecto Souto Moura, e integrado na rede Pousadas Históricas de Portugal.
E em boa hora isso aconteceu, porque é uma delícia, tanto de Inverno como de Verão, depois de bem almoçar um suculento cabrito à padeiro ou umas divinais papas de sarrabulho no limítrofe Cruzeiro – um rústico restaurante situado no outro lado da estrada, que é uma verdadeira catedral da comida minhota -, poder ir passear até à pousada. Entrar pelos seus corredores e compartimentos maravilhosamente reconstruídos, com o contemporâneo betão em diálogo descarado com o vetusto das linhas e das pedras ancestrais, e ficar a desfrutar da serenidade do bar enquanto saboreamos um chá com scones, para ajudar à digestão; ou então, se o clima o permitir, deambular pelo claustro e pelo pátio à sombra das laranjeiras ou vaguear pelo cercado, tentando adivinhar o quotidiano dos monges que por lá viveram – cerca de 32, aquando da extinção das ordens religiosas no séc. XIX.
E se me sinto mais afoito a interpretações arquitectónicas, ponho-me a descobrir o que resta do primitivo românico ou o que já é maneirista ou barroco ou neoclássico, e a ver como tudo se liga harmoniosamente pela intervenção contemporânea de Souto Moura. Também deve ser agradável ficar por lá a pernoitar, mas isso nunca fiz…