A iniciativa pretende retomar o processo de candidatura que remonta à década de 90 e fazê-lo emergir, com um novo estudo e uma nova avaliação, não só do estado em que as levadas se encontram actualmente, como as alterações levadas a cabo pela UNESCO, depois de 1994, face às novas figuras de classificação criadas no Regulamento de candidaturas.
“As levadas da ilha da Madeira são uma das jóias culturais e naturais da Região e constituem um exemplar único ao nível do património nacional. São também uma peça notável e invulgar da história da relação do ser humano com a água, como bem comum e essencial à vida, facto que lhe confere uma dimensão universal e um valor excepcional. Justifica-se, na opinião do PEV, a sua classificação como Património da Humanidade”, refere projecto de resolução.
“As levadas da Madeira são também um exemplo relevante da interacção dos interesses económicos, sociais e ambientais associados à gestão e administração da água. Revestem, ainda, características muito próprias que não encontram par no território nacional nem, tão pouco, ao nível mundial”, prossegue.
A iniciativa de ‘Os Verdes’ decorre da inércia das entidades locais e nacionais face a uma ideia que remonta a 1994.
Com efeito, em Maio de 1994, o próprio Governo Regional da Madeira aprovou uma Resolução no sentido de apresentar, junto da UNESCO, a candidatura das levadas da Madeira a Património da Humanidade, tendo sido criada uma Comissão para preparar esta candidatura.
Em 1995, os responsáveis desta Comissão, o engenheiro Henrique Costa Neves e o historiador Nelson Veríssimo, depois de um intenso trabalho que os levou a percorrer as levadas da Madeira, entregaram um relatório de candidatura à Comissão Nacional da UNESCO, que incluía três levadas: a Levada dos Cedros, a Levada da Serra e a Levada do Caldeirão Verde. Mas até hoje, o dossier terá ficado a marinar.
Recorde-se que a construção das levadas da Madeira iniciou-se com o povoamento da ilha, em meados do Século XV.
Um dos grandes obreiros dos canais que foram e continuam a ser fundamentais para a agricultura e o abastecimento de água potável foi o engenheiro Manuel Amaro da Costa, pai de Adelino Amaro da Costa, que morreu no acidente aéreo de Camrate.
As primeiras levadas, construídas em madeira de Til, traziam as águas das nascentes do Norte da ilha até ao Sul.
A rede de levadas da Madeira, com cerca de 1400 km de extensão, constitui também um ex-libris para o turismo. Ir à Madeira e não fazer uma caminhada numa levada é como ir a Roma e não ver o Papa.
Trata-se de uma admirável obra de engenharia hidráulica, recortada em paisagens de cortar a respiração, tão belas quanto perigosas face aos abismos por onde passam.
Estes canais de água têm uma singular e histórica especificidade. Os interesses económicos e sociais das levadas são seculares. Travaram-se lutas em defesa das levadas e das nascentes. À volta delas construiu-se um património material e imaterial, nomeadamente linguístico, com expressões que só os madeirenses compreendem como “o giro”, a “água de pena”, o “levadeiro” ou “os heréus”.
Se o processo de candidatura avançar, a Madeira poderá juntar as Levadas à floresta Laurissilva que, em 1999, foi considerada património mundial pela UNESCO.