Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, será feito cardeal amanhã, juntando-se aos outros dois portugueses que são conselheiros do Papa. Mais de 300 portugueses vão a Roma assistir.
Confiante e com espírito de serviço. É assim que os amigos descrevem o estado de espírito de Manuel Clemente que amanhã, ao final da manhã, receberá das mãos do Papa Francisco o anel e o barrete, símbolos cardinalícios que o tornarão no 44.º cardeal português. Com a entrada para o Colégio dos Cardeais, o patriarca de Lisboa junta-se aos dois portugueses que já integram este grupo de conselheiros do Papa: Saraiva Martins e Monteiro de Castro.
«O grande lema da sua vida é: se a Igreja pede, eu aceito. E isso aplica-se tanto ao serviço mais discreto como ao de maior responsabilidade», lembra ao SOL o cónego Luís Alberto Carvalho, um dos melhores amigos de Manuel Clemente e que acompanha a sua caminhada desde 1973, ano em que ambos entraram para o seminário. Por isso, o colega de curso diz que o amigo vai encarar com «serenidade» a sua nova função na Igreja.
No Consistório público que decorrerá na Basílica de São Pedro, no Vaticano, Manuel Clemente e os outros novos 14 novos cardeais, farão ainda um juramento de fidelidade e obediência ao Papa. O patriarca de Lisboa será o segundo a receber de Francisco a bula de nomeação, onde consta o título cardinalício com a atribuição da Igreja de Santo António dos Portugueses, paróquia de Roma tradicionalmente confiada ao patriarca de Lisboa quando se torna cardeal. Nessa mesma igreja, junto ao Colégio dos Portugueses, ManuelClemente presidirá à sua primeira missa enquanto cardeal, na segunda-feira.
Paulo Portas e Rui Machete representam Portugal
No sábado, depois da cerimónia formal, o já cardeal Manuel Clemente receberá a chamada ‘visita de cortesia’ e, durante duas horas, estará no adro da Ala Paulo VI, junto à Basílica de São Pedro, para receber cumprimentos dos que quiserem saudá-lo. Entre eles estarão os cerca de 300 portugueses que se deslocam ao Vaticano para acompanhar o Consistório, bem como outros que vivem em Roma e que, só nessa altura, terão oportunidade para o saudar. São as suas duas irmãs, cinco bispos, 20 padres, representantes de paróquias, ordens religiosas e movimentos da Igreja com quem o patriarca tem uma relação mais próxima, como as Equipas de Nossa Senhora, o Corpo Nacional de Escutas, a Ordem de Malta, a Associação de Juristas Católicos ou o Caminho Neocatecumenal.
O Estado português será representado pelo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
Os portugueses que estão em Roma terão ainda oportunidade de confraternizar com o novo cardeal português num almoço que está previsto para segunda-feira.
Em Portugal, a saudação de Manuel Clemente «ao povo de Deus» será na quarta-feira, na Igreja dos Jerónimos, em Lisboa.
Mais cardeais das periferias em Igreja menos centralizada
Com a entrada dos novos 15 cardeais (oriundos de 14 países, 10 dos quais fora da Europa), o ColégioCardinalício ficará com 223 cardeais – 125 dos quais eleitores, ou seja, com assento no conclave e poder para eleger o Papa –, oriundos de 59 países e cinco continentes.
Quando Francisco assumiu a chefia da Igreja Católica, há menos de dois anos, eram 115 cardeais eleitores e de apenas 48 países. A escolha de nomear como cardeais Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde, o bispo de Myanmar, da Nova Zelândia, da Etiópia ou do Panamá demonstra a intenção do Papa de universalizar o grupo dos seus conselheiros e de chamar para o centro da governação da Igreja sensibilidades e culturas diferentes. E também de apostar num estilo pastoral mais simples, directo e próximo das populações, menos comum nos países europeus.
rita.carvalho@sol.pt