Este desenlace extremo implicaria um imenso quadro de incerteza. Os economistas contactados pelo SOL apontam para efeitos pouco simpáticos para a população grega, se a saída ocorresse em ruptura com as autoridades europeias e Atenas não conseguisse financiamento de outro bloco económico: falências, desemprego e escassez de bens essenciais.
A saída só ocorreria num cenário extremo de ruptura completa das negociações. Deveria ser espoletada pelo BCE, antecipa Azad Zangana, economista da Schroders, uma empresa de gestão de activos financeiros. O banco central poderia recusar financiar a banca helénica e, com a corrida aos depósitos e a falta de liquidez, “a Grécia poderia ser forçada a deixar a união monetária para poder imprimir sua própria moeda” e evitar o colapso dos bancos. Numa análise à situação grega, Azad Zangana traça outros cenários menos drásticos (ver em baixo). No caso de uma saída do euro, a consequência seria uma recessão “profunda e prolongada” na Grécia.
Impactos da saída
Quais seriam as consequências práticas de uma saída do euro para os gregos? “O primeiro constrangimento seria o acesso a moeda estrangeira, o que exigiria provavelmente ajuda externa. A Grécia iria trocar um plano de ajustamento por outro”, diz ao SOL Filipe Garcia, economista da consultora financeira IMF.
Atenas já avisou que pode procurar financiamento em países como EUA, Rússia ou China. Do ponto de vista estritamente financeiro, sem ponderar implicações geo-estratégicas, seria o desfecho menos disruptivo para a economia e menos penoso para a população. Se esse apoio não fosse conseguido, os impactos seriam mais fortes. As empresas teriam dificuldades em obter crédito e a economia paralisaria.
O Estado grego tem neste momento um superávit orçamental primário – sem pagar juros. Teoricamente, poderia assegurar as despesas correntes com as receitas dos impostos, desde que deixasse de pagar as dívidas aos credores. O problema seria a dívida privada. As empresas e os bancos gregos assumiram créditos em euros e, com a desvalorização de um novo dracma, o endividamento em moeda estrangeira seria ainda maior. “Provavelmente grande parte entraria em incumprimento. Os bancos e outras empresas seriam provavelmente nacionalizados”, considera Filipe Garcia.
A economia grega também eliminou nos últimos anos o défice externo, mas a desvalorização do novo dracma implicaria um encarecimento das importações e mais inflação. A balança equilibrada face ao estrangeiro estaria em risco e a subida de preços teria efeitos no poder de compra dos cidadãos. “As importações seriam mais caras e portanto menos acessíveis. O mais provável seria uma escassez de bens essenciais, falências e paralisações de muitas empresas e consequente desemprego”. Os serviços públicos seriam afectados e as desigualdades aumentariam. “Os gregos têm muito mais a perder do que o resto dos europeus”, conclui.
E para a Europa?
Na Zona Euro, os efeitos seriam também negativos. Mais do que os empréstimos à Grécia que ficariam por pagar, o maior risco seria o contágio. A possível desagregação da união monetária deixaria de ser um cenário hipotético. A saída de um país da moeda única seria questionada quando surgissem problemas de política orçamental, antecipa Raoul Ruparel, economista do instituto Open Europe.
Outros cenários das negociações
Novo acordo
O Syriza ganha algumas concessões nas negociações com os parceiros europeus e consegue diminuir o nível de austeridade. Em troca, aceita continuar com parte das reformas no país. Neste cenário, o economista Azad Zangana antecipa que a economia grega tenha uma «pequena desaceleração», mas não uma recessão. O impacto sobre a Europa seria insignificante.
Syriza falha
Se o Syriza não conseguir qualquer recuo dos parceiros europeus para aliviar a austeridade, a margem para concretizar aumentos de despesa e cortes de impostos fica reduzida. Azad Zangana considera plausível uma fragmentação do Syriza e da coligação governamental, dando origem à convocação de novas eleições antecipadas. As implicações económicas não seriam relevantes.
Impasse longo
Se as pretensões gregas não forem aceites, a Europa e o FMI podem deixar de financiar o país. Atenas continuaria a pagar os empréstimos, mas teria de ter um superávit maior (mais austeridade) ou desrespeitar as metas do défice. Como não existe um padrão para estes casos, o BCE poderia continuar a apoiar os bancos gregos com liquidez de emergência, mantendo o país no euro. A incerteza económica seria elevada.
joao.madeira@sol.pt