Durante a segunda sessão do julgamento, que decorreu durante a manhã de hoje no Tribunal de Viseu, Sónia Baltazar sublinhou que não tem dúvidas de que o pai a tentou matar, tratando-se "de uma tentativa falhada" e que um dia "vai arranjar maneira de conseguir acabar o trabalho".
Segundo a acusação, Manuel Baltazar, de 61 anos, disparou uma arma tipo caçadeira a 17 de Abril de 2014 contra a filha e a ex-mulher (Sónia Baltazar e Maria Angelina Baltazar, que ficaram feridas) e duas familiares desta (a tia e a mãe, Elisa Barros e Maria Lina Silva, que morreram), em Valongo dos Azeites.
A filha do homem conhecido por "Palito" explicou que não falava com o pai há quatro anos, mas que de vez em quando este lhe fazia algumas esperas no local de trabalho, chegando a "aguardar dias inteiros" para a ver quando já não tinha clientes.
"Abordava-me sempre perto das festas, com ameaças psicológicas, e dizia que estava muito doente. Eram discussões que me tiravam do sério", referiu.
Ao tribunal, contou ainda que três dias antes dos disparos Manuel Baltazar esteve à sua procura no seu local de trabalho, um restaurante em Peso da Régua, onde lhe foi dito que a filha estava de férias.
Quando se preparava para sair e depois de a empregada lhe ter desejado uma boa Páscoa, Manuel Baltazar terá respondido "não sei se vai ser tão boa quanto isso", levando a que a empregada e colega de Sónia Baltazar telefonasse a avisar do sucedido.
A filha de "Palito" revelou ainda um episódio em que chegou a apresentar queixa contra o pai, que, no entanto, foi arquivada por falta de provas, por este lhe ter apertado o pescoço, depois de a ter seguido de carro.
Sónia Baltazar relatou que depois do dia 17 de Abril de 2014 passou a ter ataques de pânico, sempre que algo lhe tocava ou sempre que alguém fala um pouco mais alto, ficando nervosa e alterada
"Na altura das festas, o rebentar específico de alguns foguetes assemelha-se ao primeiro tiro que não consegui identificar e isso perturba muito", declarou.
Sobre o primeiro disparou, diz que pensou tratar-se de uma explosão, que fez com que se protegesse instintivamente, apercebendo-se depois que tinha sido atingida numa mão.
Só depois saiu do forno, onde se encontrava com a mãe, tia e avó a confeccionar bolos e diz ter agarrado pelos canos, sempre virados para o chão, da arma empossada pelo pai.
Numa tentativa de retirar a arma ao seu pai, descreve que foi arrastada cerca de quatro metros até lhe faltar a força e então largar a arma e tentar fugir com a avó que entretanto se tinha aproximado.
A avó caiu e ao debruçar-se para a apanhar sentiu "o tiro entrar e sair", perdendo de seguida os sentidos.
Durante a manhã de hoje, também Maria Angelina Félix, ex-mulher de "Palito", disse ao tribunal que tem medo que um dia este possa vir apanhá-la.
"Ele não é pessoa para aprender com a vida. Está a crescer a revolta dele e, apanhe a pena que apanhar, temo que um dia venha apanhar-me", frisou.
Na primeira sessão do julgamento, Manuel Baltazar que andou fugido 34 dias, admitiu ter feito três disparos, os dois primeiros destinados a Elisa Barros e o terceiro a Maria Lina Silva.
No entanto, negou que tivesse pretendido atingir a ex-mulher, que não soube explicar como ficou ferida, e a filha, contando que esta se atirou "para a frente da arma" provavelmente ao tentar proteger a avó.
A próxima sessão de julgamento está agendada para o dia 23.
Lusa/SOL