Óscares 2015. Eddie e Stephen: Separados à nascença

Um homem bonito, com uma presença inconfundível, uma voz forte e, acima de tudo, um excelente artista. Não há quem, depois da estreia de ‘A Teoria de Tudo’ não tenha ouvido falar em Eddie Redmayne, o actor britânico de 33 anos que dá vida a Stephen Hawking no filme dedicado à vida de um dos…

Redmayne começou a dar nas vistas no teatro, estreando-se no famoso Globe Theater com a peça ‘Noite de Reis’, de William Shakespeare, e chegou ao público internacional com a série televisiva ‘Os Pilares da Terra’ e com o filme ‘Os Miseráveis’. Mas foi com a estreia de ‘A Teoria de Tudo’  que Eddie Redmayne se afirmou enquanto actor, estando agora nomeado para o Óscar de Melhor Actor.

“Redmayne tem uma interpretação brilhante: Uma actuação que capta a curiosidade intelectual, a perseverança e o humor de Hawking. O actor é muito preciso na sua interpretação de Hawking – na contracção e decadência dos músculos, no andar ‘Chaplinesco’ e na forma como coloca o pescoço quando está sentado na cadeira de rodas. Ele nunca cai no erro de recorrer ao mimetismo, daí a interpretação ser tão boa”, escreve Geoffrey Macnab, crítico do jornal britânico Independent. 

E a questão é mesmo essa: Eddie Redmayne não se limita a imitar as peculiaridades do físico, mas a dar-lhe uma vida para lá da deficiência e da mente extraordinária – dar-lhe o lado humano que existe por detrás de um génio. E tal só é possível com uma entrega total, com muita dedicação, com estudo e convivência: Para além de ter visitado vários doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica, Redmayne encontrou-se várias vezes com Hawking, viu muitas fotografias e filmagens e leu ‘Uma Breve História do Tempo’, a obra mais famosa do crítico.

Veja-se o exemplo da cena em que Hawking, pai de dois rapazes e uma rapariga, tenta subir um lance de escadas com os braços e depara-se o seu filho Robert – na altura com cerca de dois anos – no andar de cima a ver o pai em sofrimento, sem conseguir chegar ao topo. Para além do nível de detalhe que colocada nesta tarefa física, Redmayne assume a postura com que o físico sempre encarou a vida – sem dramatismos, esforçando-se para superar os obstáculos e sem transparecer uma atitude derrotista. Foi dada uma atenção extrema não só à componente física, mas também à postura, à personalidade, ao humor e à interacção de Hawking com os outros.

E, como se costuma dizer, o trabalho compensa: “Eddie Redmayne interpretou-me muito bem no filme ‘A Teoria de Tudo’ (…) Por vezes, achava que ele era eu”, escreveu Stephen Hawking na sua página oficial no Facebook. E se o próprio físico admirou o trabalho do actor, é porque algo está realmente bem feito…

E não é só o próprio Hawking a adorar o papel – Redmayne já venceu um Globo de Ouro de Melhor Actor e um BAFTA para a mesma categoria. Parece que o seu próximo filme, ‘Ascenção de Júpiter’, é um verdadeiro ‘flop’, mas isso não deita por terra o extraordinário trabalho que fez nesta ‘biopic’. 

Falhanços à parte, esta é uma interpretação fabulosa. Eddie Redmayne deixou tudo e todos estupefactos com o seu papel. Deixou a teoria de lado e pôs em prática aquilo em que é bom – dar vida a uma personagem a interpretá-la o melhor possível. Foi fiel ao papel, mas foi também capaz de lhe dar uma vida própria. 

Apesar da interpretação excepcional de Michael Keaton no filme ‘Birdman’ e de Steven Carrell estar brilhante em ‘Foxcatcher’, este é (e tem mesmo de ser) o ano de Eddie Redmayne. O Óscar de Melhor Actor é mais que merecido.

joana.alves@sol.pt