No ano passado, os portugueses beberam 4.764 mil hectolitros desta bebida, pondo o consumo per capita nos 46 litros/ano. Este resultado fica um litro abaixo do volume de 2013, segundo dados divulgados recentemente pela Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APCV), que inclui empresas como a Unicer, a Sociedade Central de Cervejas, a Cervejas da Madeira e a Sumol+Compal.
O presidente da APCV, João Abecasis, explicou ao SOL que, apesar de um Junho recorde devido ao Mundial de futebol – evento que 'puxa' pela procura de cerveja -, a quase ausência de Verão e de temperaturas elevadas prejudicaram os resultados em Julho e Agosto. A conjuntura económica não ajudou.
Em 2014, o consumo doméstico recuou 1,6%, pesando 36% do total consumido. Já o canal HORECA (hotéis, restaurantes e cafés) passou a representar 64% em volume e 75% em valor das vendas, embora a APCV não detalhe dados absolutos. A 'dar gás' a este segmento esteve o turismo. “Demonstrou resiliência que se deveu sobretudo aos bons afluxos turísticos no país, nomeadamente Lisboa, Porto e Algarve e zonas costeiras”, justifica.
Segundo o presidente da APCV, que lidera também a Unicer, dona da Super Bock, os resultados de 2014 demonstram que “por muito que se façam promoções no canal alimentar [hipers e supermercados], há um momento a partir do qual o consumidor não vai consumir mais”.
Por isso, e face à “concorrência muito agressiva” entre os retalhistas que também originou deflação, “há que repensar a forma de trabalhar” esse canal. “Não vai ser a fazer mais promoções que vamos continuar a agradar e a encantar o consumidor. Terá de haver outras soluções, mas em primeiro lugar elas estão nas mãos da grande distribuição”, alerta.
Importações sobem
Nos últimos tempos, as cervejas foram dos artigos que mais descontos tiveram nas prateleiras das grandes superfícies. Dados da consultora Kantar Worldpanel mostram que, até Outubro, 65,3% dos clientes que compraram cerveja o faziam em promoção. É a terceira percentagem mais alta, a seguir aos iogurtes e óleos. E 6% dos portugueses só adquirem a bebida com redução no preço.
Por isso, assegura João Abecasis, inverter esta tendência “é um grande desafio para 2015”. Mas caberá a cada associado definir a sua estratégia.
“Não se avizinha um 2015 fácil, tal como em nenhum dos anos anteriores. O sector, mais uma vez, deverá ser obrigado a demonstrar a sua resiliência e capacidade de se reinventar. Continuará a procurar inovação, as melhores formas de estar junto do consumidor nos vários canais onde opera em Portugal e à procura de mercados de exportação”, antecipa.
Em 2014, as exportações de cerveja portuguesa subiram 4,6%, para 2.624 mil hectolitros. Também as importações de cervejas cresceram 36,8%, para 182 mil hectolitros – uma evolução relacionada com o abastecimento que alguns retalhistas fazem fora do país, para depois venderem cerveja com marca própria.
Na divulgação de estatísticas relativas a 2014, a APCV anunciou que vai apresentar uma queixa na Comissão Europeia contra o Governo português por discriminação fiscal entre a cerveja, taxada a 23% no IVA e a 3% no Imposto Especial sobre o Consumo (IEC), e o vinho, que paga 13% de IVA e está isento de IEC.