Óscares 2015. O que é que Wes Anderson tem?

Ralph Fiennes, Jeff Goldblum, Edward Norton, Tilda Swinton, Bill Murray e Willem Dafoe – todos juntos num elenco de luxo no Grand Budapest Hotel. Tudo por causa de Wes Anderson. 

Este americano de 45 anos com curso de Filosofia conseguiu juntar estes todos e muitos mais. Aconteceu neste, mas podíamos estar a falar de outro filme, foi assim nos anteriores. Wesley Wales Anderson tem este dom. E consegue-o com pouco e exigindo muito.

"Prometem-nos longas horas de trabalho e salários baixos," conta um "queixoso" Bill Murray, que participou em quase todos os filmes do texano (só falhou um). "É de loucos, perdemos dinheiro a trabalhar com ele. Acabamos por gastar mais em gorjetas do que recebemos.", contou ao Público no lançamento do último filme.

Dissemos Bill Murray, mas Jason Schwartzman, Luke Wilson e Owen Wilson também são habitués. Este último é um dos melhores amigos de Wes, conheceram-se na Universidade do Texas, em Austin, e desde aí são inseparáveis – parceiro de escrita dos argumentos e parte dos elencos. Uau.

Desde a sua (falamos de Wes) estreia em 1996 com Bottle Rocket (com a bênção de Martin Scorcese e da curta desta versão que fez furor no Sundance) que o mundo tremeu. E ninguém lhe ficou indiferente – ou, eufemisticamente, ficamos pasmados com a maneira muito particular de Anderson fazer filmes.

Estamos a falar do autor de The Royal Tenenbaums, The Darjeeling Limited, Fantastic Mr. Fox e The Grand Budapest Hotel. Para quem sabe e não entende (quem entende?), tentamos explicar porquê (por que é que ele fez isto e desta maneira). 'Isto' é o seu "sentido colorido de um caprichoso descontente", como o define o Guardian.

Certo. Mas esta mistura tem uma razão. Filho de Melver Anderson, antigo publicitário e relações públicas; e de Anne Burroughs, arqueóloga e agente imobiliária. Acho que estamos entendidos. (Há ainda o divórcio dos pais quando tinha 8 anos, a seguir veio o mau comportamento na escola). Típico. 

Daí haver um centro gravitacional em todas as obras de Wes Anderson: há sempre, de uma maneira ou outra, uma família. Que tem uma história para contar através de Wes. Acima de seu estilo, da técnica, do uso repetido dos mesmos actores, é a força gravitacional da família em toda sua glória disfuncional que define o tom e a atmosfera dos seus filmes.
Uma família com coração, conflito. Antiga, nostálgica. Mas uma família bem lá no meio da história.

A marca? Os movimentos por trás da câmara. Talvez mais do que tudo, é o olhar dos filmes de Wes e de como se percebe imediatamente que os filmes são seus; é difícil ver Rushmore, Fantastic Mr. Fox, ou The Darjeeling Limited e não topar à distância quem é o autor.

Não é a maneira como capta os planos, compõe as imagens ou veste os seus cenários (e personagens, claro). É esse todo que o torna único.

Sim, claro, e a loucura (obsessão) pela simetria absoluta em todas as suas composições, que foram ganhando forma ao longo do tempo. Alguns são contra a sua filosofia e contestam a simetria que é a maior característica de Wes (é óbvio o amor por Stanley Kubrick). Esta é a sua assinatura.

Bem como as viagens. A experimentação de cenários (completamente) diferentes. Desde o oceânico cenário de The Life Aquatic With Steve Zissou, às províncias indianas The Darjeeling Limited, ao confinado urbano de The Royal Tenenbaums à zona costeira do Moonrise Kingdom.

E vai tudo à boleia.

 

Se há uma marca distintiva de Wes identificável em cada um dos seus filmes, a maior pode ser mesmo o Budapest. For sure.

E por isso, duas décadas de cores e planos simétricos, a Academia rendeu-se ao seu génio e The Grand Budapest tem 9 nomeações, tantas quanto Birdman. Ralph Fiennes também podia estar nomeado, não está e é pena – merecia.

É uma overdose de nomeações para Wes, que já o tinha conseguido com o screenplay de Moonrise Kingdom e The Royal Tenenbaums e como produtor do filme animado Fantastic Mr. Fox. Mas Budapest é o primeiro a consegui-lo para Melhor Filme. Claro que a timidez de Wes agradece… timidamente. Fica bem entre Clint Eastwood, Linklater, Iñarritu e Morten Tyldum. Mesmo com aquela cara de miúdo betinho do colégio que parte a loiça toda quando os mais velhos se distraem. 

SOL