OPA do BPI com sucesso à vista

A principal incógnita em torno da oferta de compra lançada pelo Caixabank sobre o BPI está em Luanda. Isabel dos Santos é a segunda maior accionista do banco português e está à espera que os espanhóis apresentem os termos concretos da proposta, num prospecto que vão enviar à CMVM. A cedência da posição maioritária que…

A posição de Isabel dos Santos na OPA é determinante porque uma das condições impostas pelo Caixabank é o que se designa de desblindagem de estatutos. As normas em vigor impõem que os maiores accionistas exerçam apenas 20% dos direitos de voto, mesmo que tenham uma posição superior no capital do banco.

Negociações à vista

O Caixabank – detido pelo grupo La Caixa, o principal accionista do BPI – quer alterar esta regra. E para isso precisa dos votos de Isabel dos Santos, numa assembleia-geral extraordinária que ainda vai ser marcada. A mudança terá de ser aprovada por 75% dos accionistas do banco.

Para conseguir este apoio, os espanhóis poderão dar contrapartidas. Uma possibilidade é aumentar o preço da oferta e subir o encaixe que Isabel dos Santos teria com a venda da sua posição de 18,6%. O Diário Económico calculou que empresária pode ter mais-valias de 130 milhões de euros se aceitar a proposta do Caixabank (1,329 euros por acção), mas a filha do Presidente angolano pode tentar subir a parada em troca do voto na AG.

Outra possibilidade nas negociações é o BPI ceder o controlo maioritário que tem no BFA, em favor da empresária. Isabel dos Santos é actualmente accionista minoritária, através da Unitel. Para já, os espanhóis mostram-se dispostos a negociar. “Seguimos o processo normal de uma OPA, com um extremo cuidado. Esperamos alcançar um resultado favorável e trabalharemos para isso com todas as partes envolvidas”, disse ao SOL fonte do grupo espanhol.

Questionada sobre uma eventual redução da participação no BFA, a mesma fonte refere que “não se pode antecipar situações futuras” e frisa a intenção de “fazer o que melhor convenha ao BPI”.

O El País, que noticiou em primeira-mão o avanço dos catalães, escreveu que os responsáveis do Caixabank não anteviam problemas de maior em qualquer dos passos que levarão à concretização da OPA.

Interesse no Novo Banco

O presidente da associação de investidores ATM tem a mesma opinião. Octávio Viana admite que Isabel dos Santos “é essencial”, mas que o apoio “já deve estar acautelado”. Quanto aos 21.600 pequenos accionistas, que representam 12,4% do capital, antecipa que recebam bem a oferta: “Tendo em consideração a situação do banco e as perspectivas de poder adquirir o Novo Banco, parece-nos um preço justo e equitativo. A oferta aparece num momento oportuno”.

Os 1,329 euros por acção oferecidos pelos espanhóis representam um prémio de 27% face ao preço de fecho das acções no dia anterior. No limite, o banco terá de desembolsar 1.082 milhões de euros se todos os accionistas decidirem vender os títulos que têm.

Contudo, não deve ser necessário chegar a tanto. A OPA do Caixabank é sobre a totalidade do banco, mas condiciona o sucesso da operação à obtenção de mais de 50% do capital – bastará mais 6% para avançar.

Octávio Viana antevê que os pequenos accionistas adiram à oferta dos espanhóis não apenas por causa do preço, mas também porque o caso BES criou “aversão” dos pequenos investidores a acções da banca. A possibilidade de o BPI comprar o Novo Banco – que criaria o maior banco nacional em activos, à frente da Caixa Geral de Depósitos – é também vista com bons olhos.

Ulrich fica presidente

A OPA dos espanhóis foi encarada como uma antecipação a essa aquisição e as palavras do presidente da Caixabank foram nesse sentido. Ao Negócios, Gonzalo Gortázar afirmou que a desblindagem de estatutos do BPI “é um passo necessário para termos a capacidade de apoiar financeiramente uma oferta para o Novo Banco”.

Se a OPA do Caixabank for bem sucedida, o lugar de Ulrich não deverá estar em causa. A instituição espanhola “prevê continuar a apoiar a equipa de gestão da sociedade visada depois da oferta”. Num comunicado ao mercado, o grupo catalão admite mesmo que a actual gestão “conseguiu proteger o BPI da instabilidade que afectou o sistema financeiro durante os últimos anos”. 

O comunicado do BPI em reacção à anúncio da OPA mostra também alinhamento com o principal accionista, frisando que o La Caixa “tem mantido um apoio permanente à estratégia de crescimento e afirmação do Grupo BPI nos últimos 20 anos”.

joao.madeira@sol.pt e sandra.a.simoes@sol.pt