Óscares 2015. Quem é Morten Tyldum?

É sem dúvida o nome menos conhecido da lista de candidatos ao Óscar de Melhor Realizador. E também o menos favorito.

O norueguês estudou na School of Visual Arts em Nova Iorque mas nunca acabou o curso porque regressou ao seu país no último ano para procurar trabalho. Colaborou durante vários anos com a televisão norueguesa e é o homem por trás de filmes como ‘Buddy’ (2003) e ‘Headhunters – Caçadores de Cabeças’ (2011).

Este ano estreou-se com um filme falado em inglês. ‘O Jogo da Imitação’ relata a história de Alan Turing, um brilhante matemático que quebrou o código nazi durante a II Guerra Mundial e que ajudou os Aliados a vencer o conflito. A história de um herói que, como disse o norueguês à revista TIME, “viveu na sombra da história durante demasiado tempo”.

“Para mim, o Turing era como enigma, um mistério que tinha que desvendar (…) e essa foi a minha abordagem. Este filme fala da importância de não se ser normal”, disse Tyldom ao Huffington Post.

O realizador tomou conhecimento desta história, pela primeira vez, quando lhe enviaram uma primeira versão do guião do filme. Tyldum, que de imediato ficou fascinado com a história, afirma que nada sabia sobre este herói antes de embarcar no filme. “Alan Turing é uma das mais importantes pessoas do século passado. Acho que é impossível não ficar fascinado, intrigado ou ultrajado quando se ouve a história pela primeira vez”, afirmou Tyldum à revista norte-americana.

Criticado pela falta de precisão histórica e por não explorar a questão da homossexualidade do matemático (que o tornou alvo de perseguição do Estado), o realizador explicou à revista norte-americana o quão complicado é concentrar vários pormenores da vida de Turing no filme. “Tem de se comprimir muito em duas horas e não é possível ser-se totalmente preciso. Tem de se transmitir a precisão emocional – como é que Alan Turing se sentiu nesta altura – e, para fazer isso, é preciso dramatizar as coisas”. O realizador decidiu simbolizar a importância de Christopher na vida do matemático ao dar o nome à famosa máquina que quebrou o código nazi, algo que não aconteceu na realidade.

Por outro lado, está ausente do filme o episódio da Branca de Neve, da Disney. Turing assistiu ao clássico de animação antes da primeira entrevista em Bletchley Park. A partir daí ficou obcecado com o conto infantil e acredita-se que, por isso, utilizou uma maçã para se matar. Outro dos pormenores em falta: diz-se que este fruto e a sua relação com Turing terão estado na base da inspiração do logótipo da Apple de Steve Jobs.

Sem grandes movimentos de câmaras ou um brilharete técnico que se destaque, o olhar de Tyldom na história de Turing é simples e pouco acrescenta ao guião. A vida (ainda que mal contada) de Turing e a interpretação de Benedict Cumberbatch são as verdadeiras mais-valias deste filme, tornando tudo o resto – tirando o desempenho de outros membros do elenco – pouco marcante.

Daí se estranhar a sua nomeação para os Óscares, quando nomes David Fincher (‘Em Parte Incerta’) ou Christopher Nolan (‘Interstellar’) – foram excluídos da lista. Terá sido o intuito incentivar e encarreirar em Hollywood um norueguês de 46 anos?

Independentemente das razões por trás da nomeação, é pouco provável que seja distinguido pela Academia, especialmente tendo na corrida nomes como Wes Anderson (‘Grand Budapest Hotel’), Richard Linklater (Boyhood: Momentos de Uma Vida) e Alejandro Iñarritu (Birdman ou (A Inesperada Virutda da Ingorância).

Pelo menos a nomeação já lhe garantiu trabalho num futuro próximo, com o filme ‘Passengers’, com Chris Pratt e Jennifer Lawrence. Aguardemos para ver o que Tyldum nos oferece daqui em diante, insatisfeitos com este retrato redutor de Turing.

rita.porto@sol.pt