Talvez por reconhecer a mediocridade dos filmes que protagoniza, apesar de gerarem milhões em receitas, a actriz de 38 anos decidiu investir na sua própria produtora, na esperança de com ela conseguir melhores papéis. E foi o que aconteceu com ‘Gone Girl’ de David Fincher, que é produzido e esteve para ser protagonizado por Reese Whitherspoon.
Fincher não considerava Witherspoon ideal para o papel de Amy Dunne, que ficou felizmente nas mãos de Rosamund Pike – também ela nomeada para melhor actriz. Para lá de brilhante ao lado de um surpreendentemente credível Ben Affleck.
‘Wild’, cuja data de estreia em Portugal está sempre a mudar, era a grande oportunidade de Witherspoon. E parece ter sido, pois a crítica tem sido consensual nos elogios quer ao filme quer à sua interpretação – veja-se a nomeação num ano de filmes medianos, mas curiosamente de muitos bons desempenhos quer no feminino quer no masculino.
No entanto, há qualquer coisa que não bate certo em ‘Wild’, também produzido pela actriz. Não convence. Não é credível.
A começar pela idade, Witherspoon tem 38 anos e faz de uma mulher de 26 anos, com flashbacks até à sua adolescência. A actriz que desempenha o papel de sua mãe, Laura Dern – a melhor coisa do filme, com direito a nomeação para melhor actriz secundária – tem apenas 47 anos.
A história é simples: uma mulher não sabe lidar com a morte precoce da mãe e entra numa espiral de destruição, com sexo e drogas à mistura. Um cocktail de dormência que acaba num divórcio, a gota de água no copo de Cheryl. Após ver um folheto sobre o Pacific Crest Trail, um trilho que acompanha toda a costa Oeste dos EUA, do México ao Canadá, decide percorrê-lo – muito na onda do andar para espairecer, mas neste caso são quase dois mil quilómetros.
O filme vai assim saltando entre a actualidade, passada no trilho, e o passado das memórias da mãe e a vida louca que se seguiu à sua morte.
Um dos problemas do filme é que a cara de ‘Legalmente Loira’ não é convincente como uma mulher que anda de maminhas ao léu, a injectar heroína e a ter sexo com desconhecidos em becos. E que de repente decide andar quase dois mil quilómetros sozinha com uma mochila gigante às costas, em terreno hostil.
Mas nem todos pensam assim. A autora do livro biográfico que inspirou o filme, Cheryl Strayed enviou a sua obra directamente a Reese Witherspoon, seis meses antes de ser publicada. Achava que a actriz daria uma óptima Cheryl. Witherspoon viu potencial e comprou logo os direitos.
O livro saiu e foi um sucesso de ‘prateleira’, com uma ‘pequena’ ajuda de Oprah Winfrey que o colocou no seu ‘Book Club’. Para que fosse também um sucesso de bilheteira chamou-se um bom realizador, Jean-Marc Vallée, cineasta canadiano responsável por ‘O clube de Dallas’. Para adaptar a obra veio Nick Hornby autor de ‘Era uma vez um Rapaz’ e de ‘Alta Fidelidade’.
Nem esses pesos pesados conseguem salvar um filme ‘mais do que batido’ cheio de clichés e de encontros com pessoas dispostas a ajudar Cheryl pelo caminho, físico e mental.
Duas coisas, no entanto, poderiam ter tornado Wild um melhor filme. A fotografia de podia ser espectacular, aquele trilho é rico em paisagens extraordinárias, com deserto, montanhas, lagos, florestas e isso vê-se tão pouco em 115 minutos.
A segunda coisa é a banda sonora que, não sendo má, podia ser bem melhor. Os paralelismos com o ‘Into the Wild’, outra história de autoconhecimento através da solidão e da comunhão com a natureza, são inevitáveis. Mas o filme de Sean Penn, também ele um pouco decepcionante, ganha muito com a voz inconfundível de Eddie Vedder, responsável pelas músicas do filme.
Em ‘Wild’ não foi isso que aconteceu. O filme acaba de repente e fica apenas a pergunta: ‘Cheryl por que tiveste de ir arrancar unhas para o deserto, quando podias ter voltado ao psicólogo?’. Talvez o livro responda a esta questão, porque o filme não o faz.