Austeridade tem feito cair todos os Governos

O primeiro resgate da troika à Grécia, em Julho de 2010, consolidou a austeridade, defendida desde a primeira hora em Berlim como receita para o combate da crise da dívida na zona euro. A fórmula tem vindo a ser castigada nas urnas desde então, com os eleitores a optarem por derrubar os governos que a…

Mas a primeira vítima surgiu na Irlanda, em Fevereiro de 2011. Cerca de quatro meses depois do resgate financeiro ao país, o conservador Fianna Fail perdeu o estatuto de partido mais votado pela primeira vez desde 1927, ficando atrás do Fine Gael e dos trabalhistas. 

De Papandreu a Zapatero

Seguiu-se o PASOK de George Papandreu, que caiu sem ir às urnas. Em Novembro de 2011, 16 meses depois do pedido de resgate, a pressão (nas ruas e nos mercados) levou-o a pedir a demissão e a entregar a chefia do Governo ao independente Lucas Papademos, antigo vice-presidente do BCE. Ao mesmo tempo, aceitou a entrada no Executivo de dois partidos da oposição, incluindo a Nova Democracia de Antonis Samaras. Seis meses depois, as urnas entregaram o poder a Samaras por duas vezes – a eleição de Maio foi repetida em Junho depois de os deputados não terem conseguido aprovar um Governo maioritário.

No mês em que Papandreu saiu do Governo, outro socialista caiu na Europa, o espanhol Rodríguez Zapatero. O seu Governo conseguira limitar o resgate financeiro à banca, sem que com isso se pudesse libertar da austeridade. O corte de 4,5% na despesa pública aliado à subida de impostos e a um desemprego galopante abriram caminho à vitória do Partido Popular. 

Zapatero durou mais cinco meses do que o seu amigo José Sócrates, cujos Pactos de Estabilidade e Crescimento foram insuficientes para evitar o mesmo destino. O quarto PEC não passou, foram convocadas eleições e Sócrates foi derrotado quando já se tinha confirmado a vinda da troika.

Itália, o Estado-membro que mais se aproxima da Grécia quanto ao peso da dívida no PIB (135%), ficou no grupo dos países demasiado grandes para serem resgatados, a par de Espanha e França. Mas não se livrou da austeridade – nem dos seus efeitos. Assim, Silvio Berlusconi deu o lugar a Mario Monti, no final de 2011. No regresso às urnas, Berlusconi perdeu mais de 7 milhões de votos face a 2008 e o poder foi entregue ao centro-esquerda do Partido Democrático.

A queda de Berlusconi, aliada à derrota histórica do Fianna Fail, ajudou a contrabalançar uma lista então dominada por vítimas de esquerda. Em 2012, ao tornar-se o primeiro Presidente francês a falhar a reeleição desde 1981, Sarkozy equilibrou a balança, que agora pende para a direita desde a queda de Samaras. Ao líder do centro-direita francês de nada valeu o 'Merkozy', termo utilizado em referência à dupla defensora da austeridade. 

Só a líder germânica passa ao lado da crise: em 2013, aumentou em 7,8% a votação de 2009, obtendo o melhor resultado da sua CDU desde a reunificação alemã, em 1990.

nuno.e.lima@sol.pt