Presidenciais à esquerda em ambiente pantanoso

A desistência de António Guterres da corrida presidencial, oficiosa e devidamente propalada mas não confirmada pelo próprio (o que não deixa de ser significativo e pode não ser despiciendo), lançou a maior das confusões no centro-esquerda. A multiplicação de potenciais concorrentes a Belém e seus sucedâneos foi imediata. 

Candidaturas das franjas, como as de Carvalho da Silva ou Sampaio da Nóvoa, ganharam novo alento e sonham já com uma campanha frentista que leve até o PCP a cometer a ousadia de não apresentar, desta vez, o candidato próprio do costume. No PS, Adão e Silva ou Ana Gomes, que não dormem com pesadelos onde antevêem o avanço presidencial do 'facilitador de negócios' e 'bloco-centralista' António Vitorino, como carinhosamente o qualificam, não se cansam de atirar nomes de mulheres (que acham ser um trunfo) para a arena. Casos da simpática mas politicamente imaterial Maria de Belém ou da antes austeritária e actual syrizista Manuela Ferreira Leite (o caso típico de quem não capta hoje um mínimo de votos à direita, que lhe perdeu o respeito, nem à esquerda, que nunca terá  confiança nela).

Como se não bastasse, ainda há que contar neste desfile com o inevitável populismo de Marinho e Pinto, o candidato que promete fazer aparecer a sua cara em todas as eleições, de europeias a legislativas, desembocando nas presidenciais. Sem esquecer, claro, um outro nome que faz com ele parelha e é de idêntico quilate político, Paulo Morais: que admite já, também ele, criar um novo partido à sua imagem e semelhança.

Nesta feira de vaidades pessoais só faltava mesmo reaparecer na porta dos fundos Fernando Nobre, figura que os portugueses haviam remetido a um benevolente esquecimento. O ex-candidato a vários cargos não alcançados aproveitou este ambiente eleitoralmente pantanoso – ou não estivesse Guterres na sua origem… – para confessar ao país que "seria mentiroso, seria hipócrita, se dissesse que não me passa pela cabeça" uma candidatura à Presidência da República. Para quê? Poupe-se e poupe-nos a essa maçada.

Eis ao que chegámos: comediantes, acrobatas, imitadores, dançarinos e cantores de rua – as presidenciais à esquerda tornaram-se um colorido teatro de vaudeville.

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