Faltam padrinhos e famílias de acolhimento para crianças institucionalizadas

Em quase cinco anos, apenas uma criança foi apadrinhada através da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), revelou hoje fonte da instituição, realçando que o Apadrinhamento Civil não tem funcionado por falta de candidatos a padrinhos.

Para alertar a comunidade e até profissionais para a possibilidade de as crianças institucionalizadas terem uma família afectiva mesmo quando continuam a manter algum vínculo com a família biológica, a SCML realiza hoje de manhã uma sessão de esclarecimento aberta sobre o Apadrinhamento Civil e o Acolhimento Familiar.

Um afilhado civil "é como se fosse um filho, não o sendo", explicou Teresa Antunes, responsável pela Unidade de Adopção, Apadrinhamento Civil e Acolhimento Familiar da SCML.

Crianças para apadrinhar existem muitas: "são todas aquelas com menos de 18 anos, que não são adoptáveis e não tem condições de serem integradas na família biológica".

"O grande entrave é não existirem candidatos espontâneos a padrinhos", destacou Teresa Antunes, realçando que a lei permite o Apadrinhamento Civil desde 2010. 

Em quase cinco anos, a SCML registou apenas "uma situação – muito positiva – de apadrinhamento", que está a decorrer desde o ano passado. 

"Antes dessa, nunca tivemos nenhuma", disse a mesma responsável, considerando que no país inteiro devem ser pouco mais de 20 os casos de apadrinhamento.

No apadrinhamento há alguém que aceita ser tudo o que um pai representa para um filho que nunca será seu.

Os padrinhos assumem para toda a vida a tutela, a educação, as despesas, os cuidados e os afectos para com uma criança ou jovem que pode continuar a manter o contacto com a família biológica.

"Por um lado, há ainda um grande desconhecimento em relação ao apadrinhamento. Por outro, a própria situação do país não ajuda. Ainda por outro lado, há outra coisa que assusta as pessoas, que é esta possibilidade de continuar a manter o contacto com a família biológica", declarou.

Talvez por isso, "as poucas situações de apadrinhamento que existem a nível nacional são situações de facto'": tios, sobrinhos ou vizinhos que já estavam a cuidar de uma criança e que recorrem aos serviços para legalizarem a situação, que juridicamente continua mesmo depois de o jovem completar 18 anos.

É, aliás, também esta a situação do único caso registado pela Santa Casa, no qual "já havia uma relação prévia estabelecida" entre quem apadrinhou e a criança.

Quanto ao Acolhimento Familiar, um modelo criado há cerca de 20 anos, não existe actualmente nenhum caso na esfera da SCML e são poucos em Portugal, apesar do sucesso em países como Inglaterra ou Espanha.

Esta modalidade permite que a criança, em vez de estar numa instituição, fique com uma família, por decisão do tribunal.

"Famílias de acolhimento não são pais adoptivos. É sempre uma medida de carácter transitório. Muitas vezes é só o período em que está a ser estudada a reintegração da criança na família biológica, mas ainda não foi possível", explicou, destacando que estas famílias são prestadoras de um serviço, com uma retribuição enquanto recebem a criança, mas há poucos casos em Portugal.

O processo de exigências e de selecção dos candidatos a apadrinhamento é semelhante ao da adopção e as inscrições podem ser feitas na SCML, para candidatos da região de Lisboa, e nas direcções regionais de segurança social no resto do país. 

Para quem precisar de mais esclarecimentos, a Santa Casa tem uma linha directa através do número de telefone 213 235 133 ou do e-mail serviço.adopcao@scml.pt.

Lusa/SOL