Batalha presidencial até já envolveu Einstein

Ao fim de 73 dias na presidência do Sporting, Bruno de Carvalho avançou em 5 de Junho de 2013 para o corte de relações com o FC Porto. Um encontro fortuito com Adelino Caldeira, vice-presidente dos ‘dragões’, na final da Taça de Portugal em andebol, depressa resvalou para o insulto. Era a gota de água…

Desde então, Bruno de Carvalho e Pinto da Costa andam sempre em sentido oposto e será impossível fugir a este clima de hostilidade no clássico de domingo. Se um diz preto, o outro diz branco, como se tornou flagrante na escolha de Luís Duque para presidir à Liga de Clubes: um ex-dirigente do Sporting, desavindo com a actual direcção leonina, escolhido para o cargo por iniciativa do FC Porto com a concordância do Benfica. «Aliança? Aquilo já é casamento», atirou Bruno de Carvalho, ao referir-se à aproximação entre 'águias' e 'dragões'.

'Guerra' extremada

O tom beligerante do líder sportinguista encontra quase sempre eco do outro lado. E as investidas de Pinto da Costa também nunca ficam sem resposta. Antes da visita dos lisboetas ao Estádio do Dragão para a Taça de Portugal, em Outubro, Bruno de Carvalho disse estar à espera de ser mal recebido na Invicta. O presidente do FC Porto ripostou: «O que ele diz não me interessa, nem sequer o conheço». E sobre as exibições do Sporting afirmou que não podia comentar por não ter visto qualquer jogo.

A contra-resposta não demorou. Bruno de Carvalho aludiu aos 75 anos do homólogo portista para sustentar que não estranhava o comentário sobre os 'leões': «O meu pai, que eu adoro, é uma pessoa com 80 anos. Por isso eu percebo. A certa altura temos algumas dificuldades, é normal».

A antipatia recíproca não chegou a este extremo da noite para o dia. No mês anterior, por exemplo, o Sporting tinha recebido os 'azuis e brancos' em Alvalade. E, depois do empate a um golo, Bruno de Carvalho disparou: «O FC Porto pensava que vinha a Alvalade e que eram favas contadas, mas nós não somos o BATE Borisov». Estava num convívio em Elvas, perante adeptos leoninos, e alfinetou em várias direcções. «Dá-me vontade de rir quando vejo dirigentes do FC Porto a falar da arbitragem» – foi outra declaração incisiva desse dia.

Uma semana depois, Pinto da Costa reagia por escrito, na revista oficial do clube. Em alusão a um lance em que Slimani se pegou com Martins Indi, o líder portista referiu-se aos rivais leoninos como «os mesmos que se calam quando um jogador aperta o pescoço de um colega de profissão e escapa à expulsão».

Uns meses antes, em Março de 2014, o FC Porto apresentou queixa na Liga de Clubes contra o Sporting por suposta pressão ilegal sobre os árbitros, acção que Bruno de Carvalho catalogou de «desespero e senilidade pura». Os 'dragões' responderam através de um comunicado que citava o mais famoso Nobel da física: «Como dizia Einstein, duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas em relação ao universo continuamos sem ter a certeza absoluta».  

E tudo começou na fruta

A relação entre FC Porto e Sporting azedou logo nos primeiros tempos de Bruno de Carvalho em Alvalade. Na origem, a transferência de João Moutinho para o Mónaco: os 'leões' tinham direito a 25% da mais-valia realizada e entenderam que o rival se aproveitou da venda simultânea com James para baixar o preço do português e subir o do colombiano, de modo a pagar menos ao Sporting.    

Bruno de Carvalho ironizou: «Tivemos o azar do presidente Pinto da Costa não estar a conseguir fazer os negócios que tem feito, mas às vezes as pessoas não vão tendo as mesmas capacidades».

No 'troco', o presidente do FC Porto enalteceu o facto de ter vendido «uma maçã podre» (termo utilizado por José Eduardo Bettencourt para se referir a Moutinho quando viu o jogador forçar a saída para os 'dragões', durante o seu mandato) por 25 milhões de euros, quando os 'leões' a tinham deixado partir por 11. «O Sporting não é dado a frutas, mas não somos bananas», respondeu Bruno de Carvalho.

Duas semanas depois, deu-se o encontro ocasional com Adelino Caldeira. O dirigente portista recusou-se a cumprimentar o sportinguista e ter-lhe-á chamado banana. Estava dado o mote para o corte de relações, que agora levanta outra questão para o clássico de domingo: impedido de se sentar no banco de suplentes por castigo, e não sendo a tribuna uma alternativa, onde irá Bruno de Carvalho assistir ao jogo? Desde que é presidente, o Sporting só perdeu uma vez com o FC Porto. Num total de cinco encontros, soma duas vitórias e dois empates.

rui.antunes@sol.pt