Casas de fado de Lisboa resistem graças aos turistas

Integradas nos bairros históricos de Lisboa, as casas de fado têm resistido às dificuldades do mercado e redução de público português, sobretudo devido à maior afluência de turistas, disse a presidente da Associação Portuguesa Amigos do Fado (APAF).

A situação económica do país tem afastado os portugueses destes locais e, hoje, "é um luxo ir a uma casa de fados", sublinhou Julieta Estrela de Castro, ressalvando que não está em causa o interesse pelo fado.

"Se anteriormente tínhamos uma média de 80% de portugueses [nas casas de fado], presentemente não temos 40% de portugueses", admitiu a presidente da APAF, adiantando que, no entanto, "existe uma maior afluência de clientes estrangeiros".

No Bairro Alto, a casa "O Faia", fundada em 1947 por Lucília do Carmo, mãe do fadista Carlos do Carmo, continua a ser um negócio de família, em que todos os dias, excepto ao domingo, existem espectáculos com a participação de artistas fixos, como Ricardo Ribeiro, Lenita Gentil, Anita Guerreiro e António Rocha.

Ao longo de mais de meio século de existência, "O Faia" tem conquistado "público essencialmente nacional", mas também turistas "super-interessadíssimos" em ouvir fado, disse um dos responsáveis pelo espaço, Paulo Ramos.

"Às vezes temos 85 a 90% de turistas na sala. Faz parte. Se fossem só os portugueses a sustentar estas casas, era mais complicado", afirmou.

Com um preço médio "a partir de 60 a 65 euros por pessoa", actualmente o negócio "está a correr bem, mas podia estar melhor", defendeu o responsável pelo espaço, frisando que sempre se ultrapassaram "os períodos menos bons", sempre "em prol da cultura e do fado".

A funcionar há 36 anos, a "Adega do Ribatejo", no Bairro Alto, é considerada uma casa de fado "vadio", pois os artistas variam consoante quem aparece para cantar e o preço médio por pessoa "ronda os 20 euros com refeição completa", referiu o proprietário, Augusto Silva.

Apesar de ser um preço mais acessível, a evolução do negócio tem sido "negativa [porque] as pessoas não têm dinheiro para comer, não podem gastar, não bebem bebidas, dividem as doses, é diferente", explicou.

Segundo o proprietário da "Adega do Ribatejo", os clientes são "80% estrangeiros e 20% portugueses".

Mais recente, a casa "Guitarras de Lisboa" surgiu em 2003 no bairro de Alfama, com preços de, "em média, 30 euros por pessoa" e com espectáculos diários com artistas fixos, disse o proprietário António Mendes.

Embora admita que os restaurantes que vivem do fado "não são restaurantes para se ir jantar com alguma assiduidade", António Mendes considera que isso talvez se tenha convencionado assim "mais por uma questão monetária".

Apesar disso, o empresário admite que o negócio "felizmente, todos os anos tem crescido".

Actualmente, o público que assiste aos espectáculos de fado "é muito mais amplo", abrange outras camadas sociais e chega aos mais jovens, que "hoje têm muito maior acesso à cultura do que anteriormente tinham", considerou a presidente da APAF.

De acordo com Julieta Estrela de Castro, "presentemente, há 33 casas de fado" em Lisboa, têm aberto muitas porque "as pessoas pensam que abrem uma casa e que enriquecem, mas é mentira".

"Está muito difícil segurar uma casa de fados, sempre foi difícil, mas presentemente há muitos apêndices a pagar", desde taxas à Sociedade Portuguesa de Autores e à Direcção Geral de Espectáculos, [até] água, luz, empregados e IVA a 23%, mencionou a responsável da APAF.

Em 2011, o fado foi elevado à Património Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, porém "ninguém reconheceu as casas de fado", quando foram elas que aguentaram e se sacrificaram e "viveram a balões de soro" até o fado ser distinguido, frisou.

A presidente da APAF, Julieta Estrela de Castro, e os proprietários das casas de fado criticaram ainda a falta de apoio por parte da Câmara de Lisboa e do Governo para a promoção do fado nestes espaços, que fazem parte da cultura portuguesa, em especial dos lisboetas.

Lusa/SOL