É possível entrar em combustão espontânea?

Já ouviu falar na combustão humana espontânea? Tem sido um tema muito debatido na comunidade científica. Este fenómeno voltou a estar nos sites internacionais após uma mãe indiana ter afirmado que o seu bebé tinha começado a arder… Pela quarta vez.

O primeiro incidente ocorreu em 2013. Os vizinhos ouviram o bebé Rahul a gritar e correram para a casa ao lado. Quando entraram, viram que o bebé estava dentro do berço e tinha o corpo a arder. Rahul, que tinha apenas nove dias de idade, foi levado para o hospital de Viluppuram, na Índia com queimaduras graves. Segundo a mãe do bebé, Rahul já teve outros três episódios de combustão espontânea.

Uns acreditam na versão desta mãe, outros dizem ser impossível uma pessoa arder espontaneamente, alegando que, neste caso, o bebé era vítima de maus tratos.

Mas em que consiste a combustão espontânea? De acordo com os casos descritos ao longo dos últimos 300 anos, o corpo começa a arder, do qual resulta um fumo com um cheiro muito característico. Segundo os mesmos relatos, as extremidades do corpo costumam ficar intactas.

Um dos primeiros casos a ser conhecido foi o de uma condessa italiana de 62 anos que viveu no século XVIII. Quando os empregados entraram no quarto da mulher encontraram apenas um monte de cinzas e as suas pernas. O caso foi analisado e publicado no Transactions Of The Royal Society, em 1745, lê-se no jornal britânico Daily Mail.

Foram vários os casos que surgiram depois e que deixaram a comunidade científica perplexa. Num texto intitulado ‘Um Ensaio Sobre a Combustão Humana’, o filantropo Pierre Liar atribuiu este fenómeno ao consumo exagerado de álcool, explica o mesmo site. Esta conclusão acabou por ser aceite – até Charles Dickens fez referência a um bêbedo que morre vítima de combustão espontânea no seu romance ‘Bleak House’.

No entanto, começaram a surgir várias vozes que se opunham a esta teoria: o biólogo britânico Brian J. Ford defendia que este fenómeno era causado por um composto natural chamado acetona, muitas vezes usado para remover o verniz das unhas. A acetona costuma sair do corpo através da urina, mas em certos casos, alguns doentes acabam por acumular uma grande quantidade deste químico no corpo, explica o Daily Mail.

Vários cientistas apoiaram esta ideia, dizendo que, devido aos altos níveis de acetona, o corpo entrava num estado de cetose, ou seja, o organismo começava a usar os depósitos de gordura como fonte energética. 

Vários investigadores já realizaram experiências em animais para tentar explicar este fenómeno, mas nunca conseguiram a autorização para realizar os testes em seres humanos. A verdade é que não existe qualquer prova de que os níveis de acetona possam estar relacionados com este fenómeno. No caso de Rahul, por exemplo, os médicos viram que os níveis deste químico estavam estáveis e não apresentavam qualquer anomalia.

Assim sendo, não existe nada que prove que um corpo pode entrar em combustão espontânea. Muitos médicos dizem que se pode tratar de pequenos acidentes com factores externos, que nada têm a ver com fenómenos orgânicos. A verdade é que continuam a surgir casos de pessoas que dizem que começam a arder sozinhas, sem qualquer explicação. E a ciência ainda não tem respostas para lhes dar.

joana.alves@sol.pt