Imagine que chega a casa, liga a televisão e fica várias horas a ver um comboio a serpentear pela linha numa zona remota e montanhosa. Foi assim que a NRK começou os seus programas de Slow TV. Para assinalar os 100 anos da Linha de Bergen, que percorre 371 quilómetros da Noruega entre Oslo e a cidade com o mesmo nome, os responsáveis do canal decidiram apostar em 2009 numa transmissão integral da viagem. Surpreendentemente, o programa de 7 horas e 16 minutos atraiu 1,2 milhões de pessoas num país com uma população de apenas cinco milhões. Desde então, a Slow TV nunca mais parou.
Agora é a BBC Four que pretende investir no conceito, tendo anunciado a série BBC Four Goes Slow (‘a BBC 4 abranda’, numa tradução livre) para a próxima Primavera. Garantidos estão já um programa de três horas que acompanha uma visita à National Gallery, de Londres; outro de duas horas em que se pode ver um barco a percorrer um canal; e três programas de meia hora em que se assiste à construção de um objecto, como uma faca ou uma cadeira, do início ao fim do processo.
É um primeiro passo, mas ainda assim muito abaixo do ‘nível’ que a NRK já atingiu. Depois de 2009, o canal norueguês já acompanhou em 2011 um percurso de barco de 134 horas entre Bergen e Kirkenes, que captou 3,2 milhões de telespectadores ao todo; 18 horas de pesca do salmão no início da época, em 2012, com 1,6 milhões de pessoas a assistir; ou oito horas de transmissão de uma lareira a arder em 2013, visto por um milhão de pessoas.
Outros programas de Slow TV no mínimo ‘estranhos’ no histórico da NRK incluem 13 horas de pessoas a tricotar em 2013 (um milhão de telespectadores); 24 horas de palestras de cientistas noruegueses em Maio do ano passado (700 mil telespectadores); 60 horas com 200 coros a cantar os 899 cânticos do livro oficial da Igreja Luterana da Noruega a partir de várias igrejas (2,2 milhões de telespectadores ao todo); e ainda 14 horas de emissão em que as pessoas podiam ver um pequeno cenário de um café ao ar livre, enquanto esperavam que pássaros voassem até lá.
Agora que a tendência saiu das fronteiras da Noruega e já chegou a países como o Reino Unido, para quando uma transmissão nos canais portugueses do trânsito na Praça do Marquês de Pombal, do comboio na Linha do Douro, ou de um rebanho de ovelhas bordaleiras a pastar na Serra da Estrela?