Pereira Cristóvão aderiu aos Templários e ajudou sem-abrigo

   

Enquanto a Polícia o investigava, Paulo Pereira Cristóvão criou uma associação de solidariedade social que dava apoio aos sem-abrigo, iniciou-se numa ordem templária e tentou lançar uma comendadoria em Lisboa, para atrair pessoas influentes.

Em Outubro de 2014, o antigo dirigente do Sporting, sabe o SOL, foi iniciado numa ordem templária, uma organização de cavalaria. Mas depressa entrou em conflito com os responsáveis da instituição e oito semanas depois acabou por sair. Antes disso, ainda tentou criar e liderar uma comendadoria em Lisboa (grupo de Templários), onde queria agregar pessoas influentes para aumentar e fortalecer a sua rede de contactos.

Entretanto, e perante as notícias da sua detenção, os líderes da ordem dos Templários estão a analisar o caso para decidir se o expulsam da organização. Se isso acontecer, Pereira Cristóvão passará a figurar numa lista pública com o nome de todos os membros expulsos e as razões da decisão.

Pelo meio da sua incursão no mundo dos Templários, Paulo Pereira Cristóvão constituiu, em Novembro, uma associação humanitária: chama-se Umas Horas Pelos Outros (UHPO) e distribui refeições quentes aos sem-abrigo. Além disso, promove outro tipo de apoio (como cuidados médicos e de higiene aos carenciados), patrocinado por personalidades do mundo artístico e do futebol. O arguido criou a organização com um grupo de amigos, entre os quais Anabela Melão, uma empresária que saiu com ele da ordem templária.

“É muito simpático e composto. Conhecendo-o socialmente, não se imagina que possa fazer o que o acusam”, conta uma pessoa que com ele privou nos últimos tempos, recordando que tinha uma personalidade cativante e não resistia a mostrar o seu poder e influência: “Não esconde que fez parte do submundo, que mantém contactos por ter sido da Polícia Judiciária e que consegue a informação que quiser sobre quem quiser”.

Ilibado de tortura e suspeito de espionagem

Até agora, a única sombra a pairar sobre a vida de Pereira Cristóvão é a de ter criado uma rede de espionagem a jogadores e árbitros, quando era vice-presidente do Sporting. Sabia tudo o que faziam, desde as noitadas às dívidas financeiras, recorrendo a empresas, uma delas encabeçada por um antigo empregado seu na Primuslex, empresa que criou quando saiu da PJ para fazer business intelligence. As suspeitas de espionagem surgiram durante a investigação em que foi acusado de forjar um suborno ao árbitro assistente José Cardinal, um caso que aguarda julgamento.

De resto, foi ilibado da acusação de tortura a Leonor Cipriano, mãe de Joana (uma criança que desapareceu no Algarve), tornou-se mediático ao comentar casos de polícia na televisão, criou a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas com o amigo e advogado Pragal Colaço, com quem se incompatibilizou, e tornou-se, segundo o seu perfil na rede Linkedin, administrador numa empresa com sede no Luxemburgo que presta consultadoria na área do futebol. Escreveu ainda cinco livros, três deles sobre crianças desaparecidas: Joana, Maddie e Rui Pedro (desaparecido em Lousada). Quanto às restantes obras, uma é sobre os casos mediáticos do futebol nacional e a outra um romance sobre o lado obscuro e corrupto da PJ.

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