António Costa não pára de nos surpreender

Depois das suas inopinadas confissões à comunidade chinesa, que deixaram o PS em polvorosa e a maioria de centro-direita sem saber bem o que dizer, António Costa aproveitou o balanço desta sua imprevisibilidade oratória para nos surpreender com mais revelações políticas de pasmar. Fê-lo, em estilo muito caseiro e descontraído, numa entrevista à versão digital…

Numa só frase, o líder do PS brindou-nos com três pensamentos inusitados. Eis o que disse Costa: «Há uma contradição insanável entre a ansiedade dos portugueses de quererem uma mudança já e esta lenta agonia em que o Presidente da República lançou o país, que transformou as próximas legislativas numa maratona».

Maratona?! Quando faltam poucos meses para as legislativas? Ainda por cima ele, que ascendeu à liderança do PS há três meses e vai disputar eleições passado menos de um ano? Estava à espera de quê? De uma corrida de 50 metros, de chegar e ter eleições no mês seguinte? Guterres teve que penar quase quatro anos no Largo do Rato antes de chegar a S. Bento. Costa evitou esse desgastante caminho e deixou António José Seguro a marinar durante três anos, mas não devia estar à espera que lhe oferecessem o cargo de primeiro-ministro numa bandeja e por express mail.

Lenta agonia?! Quando a economia e o PIB voltam, finalmente, a crescer um pouco, quando há reanimação do mercado de emprego e começam a ser devolvidos cortes nos salários e pensões? Quando o país se livrou de novo resgate financeiro e se consegue financiar, livre e autonomamente, nos mercados com juros cada vez mais baixos? Agonia?! 

Costa acusa, de permeio, o Presidente da República de não ter «lido bem os sinais do país», de não deitar o Governo abaixo e não permitir «uma mudança já». É uma acusação reveladora do incontido frenesim pelo poder de quem a faz.

Afinal, António Costa e o PS já não defendem que os mandatos dos Governos democraticamente eleitos devem ser cumpridos até ao fim? Ou é conforme e depende das audiências, como no caso dos chineses? Se é essa a visão de estabilidade política que tem a propor aos portugueses, Costa arrisca-se a não ir longe. 

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