Para alcançar estes prémios, o atleta teve de fazer sacrifícios. “É óbvio que há coisas que temos de deixar de fazer para se levar uma carreira desportiva adiante, mas é tudo uma questão de sabermos o quanto queremos ou não ser atletas”, explica à Tabu. De resto, afirma não ter nenhum vício. “Beber ou fumar está fora de questão”.
A paixão por artes marciais surgiu logo aos sete anos de idade, quando entrou para o karaté. Mas foi por volta dos 13, depois de ver combates de K1 e de o pai lhe ter mostrado o filme Kickboxer, protagonizado por Jean-Claude Van Damme, que Diogo decidiu experimentar o muay thai.
Existiria já um lutador dentro desta criança? Diogo admite que nunca foi “um aluno exemplar”, mas acha que teria sido “muito pior” se nunca tivesse praticado este tipo de desporto. “Em criança era extremamente irrequieto e quando comecei a praticar karaté acalmei bastante, aprendi a controlar-me e a ter disciplina”.
Começar a competir a sério tornou mais complicado conjugar a escola com os treinos. “Acabei por deixar os estudos no 1.º ano de faculdade por querer dedicar-me totalmente ao muay thai. Foi a melhor coisa que fiz. A faculdade lá estará quando eu a quiser acabar, seja com que idade for. Tinha que apostar agora na minha carreira, se o fizesse mais tarde não ia conseguir chegar a este nível”.
Desde que começou, Diogo esforçou-se por ser o melhor. “A minha primeira vitória foi no meu primeiro combate, dia 12 de Maio de 2006 no Algarve”, recorda. Curiosamente, o combate que o deixou “mais feliz” terminou numa derrota: “Foi contra um dos meus ídolos e um dos melhores atletas de muay thai de todos os tempos, Yodsanklai Fairtex. Lutei contra ele num dos maiores eventos de muay thai a nível mundial, o Thai Fight”, relembra.
Treinos e restrições
Como é o dia-a-dia de um campeão? “Num dia de treino normal levanto-me às 06h00, tomo o pequeno-almoço e às 07h00 estou no ginásio pronto para treinar. Começamos por correr entre 30 minutos a uma hora e depois treinamos. Depois volto para casa, almoço e vou descansar até à hora do lanche, para às 17h00 estar de novo no ginásio”, explica o atleta. O 'guerreiro' só tem direito a descansar ao domingo.
Além disso, Diogo precisa de ter cuidado com a alimentação: “Nada de fast food, refrigerantes, doces, fritos e muitas outras coisas que normalmente sabem bem”. As horas de sono também são importantes – caso não se descanse o suficiente “o rendimento no treino baixa e ficamos mais expostos a lesões”.
Mas Diogo tem apenas 24 anos, uma idade em que é normal sair à noite, consumir bebidas alcoólicas e cometer alguns abusos. É aí que mais sente na pele as restrições a que está sujeito: “Às vezes é complicado ter uma vida considerada normal para uma pessoa da minha idade. Não me lembro da última vez que fui a uma discoteca ou que saí até 'às quinhentas'. Faço a 'festa' estando com as pessoas que mais gosto, visto que muitas vezes estou longos tempos sem ver os meus amigos”.
O apoio de terceiros é indispensável. Os seus pilares são a namorada – Maria Salomé Lobo, também ela bicampeã do mundo e campeã europeia de muay thai – e a sua treinadora, campeã do mundo de muay thai (2007), bicampeã do mundo de kickboxing (1999 e 2001) e bicampeã mundial de thai boxing (2004 e 2005).
Diogo e Maria Salomé encontraram-se em 2007, num campeonato na Tailândia. Nunca se tinham visto antes, mas desde então não deixaram de estar juntos. Ambos encaram o muay thai com a mesma seriedade: “Treinamos todos os dias nos mesmos horários. Às vezes penso que se a Maria não praticasse muay thai com a mesma dedicação talvez não entendesse o porquê de tantas horas fechado no ginásio. Assim torna-se tudo muito mais fácil – puxamos um pelo outro quando estamos mais cansados e sabemos respeitar tudo a que uma carreira desportiva obriga”, explica Diogo.
A dor de quem combate
E como lida o atleta com a dor? “A dor física é algo a que nos vamos habituando quando praticamos este tipo de desporto. É normal andar com o corpo dorido devido ao esforço muscular que o treino implica. Também é normal ter algumas mazelas, mas nada que não passe com um pouco de gelo e umas massagens”, explica Diogo Calado.
Mas existe outro tipo de dor, a psicológica, e essa exige um trabalho rigoroso antes e depois de um combate: “Há quem não lide bem com a derrota ou com as fases mais difíceis da sua carreira, mas perder faz parte da vida e é impossível estarmos sempre em topo de forma. A maior parte das pessoas que se deixam ir abaixo psicologicamente não conseguem manter-se muito tempo no mundo das competições num desporto como este”.
Apesar de existir uma federação e de o número de atletas estar a crescer, o muay thai, considera Diogo, ainda não tem o destaque que merece. É por isso que a maior parte dos portugueses não tem noção dos títulos já conquistados: “A maior parte das pessoas não fazem ideia da quantidade de medalhas e excelentes resultados em competições internacionais que os portugueses têm nesta modalidade”.
Diogo viaja para aprender com os melhores. “Já fui treinar várias vezes ao estrangeiro, maioritariamente à Tailândia, onde passei longas temporadas. Também já fui à Holanda para treinar num ginásio que tem formado grandes campeões”. Como ele.