A febre dos descontos na internet está instalada. São cada vez mais os clientes que acedem aos portais de vouchers e promoções para adquirir produtos e serviços mais baratos. Dependendo dos produtos ou serviços e da altura do ano, os descontos podem ir até 80 ou mesmo 90% do valor inicial. Pedro Miguel Cordeiro, informático de 37 anos, é um fiel adepto destes sites.
«Quase todos os dias vejo e-mails promocionais que me chegam através das subscrições. De 15 em 15 dias devo comprar, pelo menos, um artigo», revela. As compras de Pedro Cordeiro incidem sobretudo em produtos de entretenimento e lazer, como «refeições em locais privilegiados, fins-de-semana de fuga ao stresse, lavagens automóveis, mudanças de óleo ou até polimentos para o carro, quando o preço é apetecível», explica-nos. O funcionamento é simples: os portais de descontos vendem produtos ou serviços de fornecedores com descontos significativos, para escoar stock ou promover serviços e divulgar a marca. Os produtos estão agrupados por categorias e, a partir do momento em que fazem o registo no portal, os visitantes recebem as principais novidades diariamente no seu e-mail. Para Pedro Cordeiro, a principal vantagem é «o preço mais baixo, assim como a possibilidade de conhecer novos produtos e serviços. E sabe-se que o que se está a ver é o mais barato que deverá existir no mercado».
Maria João Duarte, que trabalha numa empresa de turismo em Lisboa, adquire na web «sobretudo refeições em restaurantes, uma vez que a redução de preços é significativa». O processo de compra neste modelo «corre bem», diz. Estes portais já lhe permitiram conhecer, por exemplo, «um bom restaurante por um valor bastante acessível».
Mulheres jovens e licenciadas são principais clientes
O sistema parece ser vantajoso para todos: para os consumidores finais, para os intermediários e para os próprios fornecedores. A Groupon, um dos maiores portais de descontos do mundo, vende diariamente «mais de mil ofertas a nível internacional, em mais de 2900 categorias de produtos e serviços», revela Estefania Lacarte, directora de comunicação, relações públicas e social media da Groupon Espanha e Portugal. «Actualmente, contamos com mais de 43,5 milhões de utilizadores em todo o mundo. Sabemos que a situação económica de muitos países não é a mais favorável, mas, tendo em conta esse cenário, tivemos resultados muito positivos». Os restaurantes e a beleza são as categorias com mais procura em Portugal, pois «os portugueses gostam de comer bem e de cuidar deles próprios», considera Estefania Lacarte. O perfil do cliente português da Groupon apresenta algumas surpresas, como revela a directora: «Jovens na faixa etária entre os 20 e os 45 anos, dos quais 60% são mulheres e 65% têm formação universitária e são trabalhadores activos, de classe média e média-alta».
A Groupon – cujo nome deriva da união de duas palavras inglesas, group (grupo) e coupon (cupão) – nasceu em 2008, nos EUA, e foi pioneira do fenómeno da compra colectiva. Hoje está presente nos cinco continentes. Chegou a Portugal em 2008 e visa «permitir aos utilizadores ter acesso a ofertas variadas por preços baixos, permitindo às empresas locais de cada país ampliar o seu negócio ao comércio online e aumentar o seu mercado», explica Lacarte.
O sucesso da Groupon levou ao aparecimento de centenas de outras plataformas do género e à geração de novos negócios em torno do mercado. «Com o crescimento do número de sites que disponibilizam descontos, tornou-se difícil acompanhar todas as oportunidades e o wOne.pt nasceu para solucionar este problema, permitindo ao utilizador acompanhar todos os descontos, num só portal e passar a recebê-los num só e-mail», explica Bruno Machado, co-fundador e administrador do portal wOne.pt. Criado em 2010 por três jovens empreendedores nacionais formados em Economia e Marketing Digital, o wOne.pt já gera aos sites parceiros «um volume de negócios total aproximado de 450 mil euros por semestre», desvenda Bruno Machado. O wOne.pt funciona como uma espécie de motor de busca de descontos, redirecionando para os sites parceiros o tráfego originário da sua plataforma. As categorias mais procuradas neste portal são «hotéis e viagens, restauração, beleza e moda», conta o responsável.
Restauração, estética e gadgets são, por seu turno, as categorias mais procuradas pelos clientes da Goodlife, uma «empresa 100% nacional e que emprega já quase 40 pessoas», revela Gonçalo Uva, sócio fundador. Na Goodlife, os principais consumidores andam na «faixa etária dos 20 aos 39 anos, não tendo qualquer preconceito em fazer transacções online», diz o responsável. Para o fundador da Goodlife, o consumidor tipo destes sites é «soberano, muito sensato, identificando as oportunidades que lhe parece que cumprem as suas necessidades, e só depois avançando para a compra».
Portais não assumem falhas dos parceiros
Mas nem tudo 'são rosas' no mundo das pechinchas online. Fraudes e outros problemas têm motivado queixas à Associação de Defesa do Consumidor (DECO), conforme revela Rosário Tereso, jurista da associação. «A reclamação mais recorrente resulta de dificuldades na marcação do serviço ou experiência junto do parceiro», revela a responsável. A falta de capacidade de resposta, de correspondência entre o publicitado e o serviço prestado, assim como a falta de qualidade dos serviços são outras das situações denunciadas à Deco. «Também têm surgido problemas relacionados com a data de validade dos vouchers e com o reembolso em caso de resolução do contrato pelo consumidor no prazo de 14 dias, em virtude de se tratar de uma compra à distância», acrescenta a jurista.
«Uma das questões que mais têm preocupado a Deco é o facto de estas empresas tentarem desresponsabilizar-se totalmente perante o consumidor, em caso de incumprimento contratual do parceiro», especifica. A quem efectuar compras nestes portais, a Deco aconselha a que «esteja particularmente atento a condições de acesso, requisitos e prazos de validade, e ainda que entre em contacto com o prestador do serviço antes de comprar o voucher, para se certificar de que o parceiro tem disponibilidade nas datas pretendidas».
Em caso de incumprimento, deverá apresentar «reclamação ao site e ao parceiro, procurando ajuda junto da Deco ou recorrendo a um Centro de Arbitragem ou a um Julgado de Paz». Em situações extremas, «deverá denunciar a situação à ASAE e, em caso de fraude, apresentar queixa junto de um órgão de polícia criminal», adverte.