"O fotojornalismo nasce da ideia de chegar às pessoas numa linguagem que todos podem entender, criar histórias visuais que chamam a atenção de uma forma que não pode ser ignorada. Quando recebes um prémio, isso dá-te uma oportunidade para mostrar às massas histórias em que tens interesse", explicou Peter à agência Lusa.
O prémio, que o fotógrafo de 46 anos já recebeu seis vezes no passado, distingue o trabalho do último ano, em que fotografou sistemas de educação alternativa, funerais de soldados norte-americanos mortos em combate e jovens lutadores de boxe.
"Este prémio é importante porque, primeiro, é dado por uma organização que representa todos os fotojornalistas nos Estados Unidos e, segundo, porque tem em conta todo o trabalho feito durante um ano, mostrando que foste consistente", explicou Peter Pereira à agência Lusa.
O fotógrafo, que está associado a The Standard Times, de Massachusetts, já teve o seu trabalho publicado em meios como o The New York Times, o Los Angeles Times ou o Washington Post.
Peter Pereira nasceu na Figueira da Foz e foi ainda em Portugal que começou a interessar-se por fotografia.
"Era um menino e lembro-me de uns primos que estavam imigrados nos Estados Unidos nos visitarem. Levámo-los a visitar o castelo de Montemor-o-Velho e carreguei a câmara do meu primo. Penso que foi nesse momento que me apaixonei pela ideia de tirar uma foto e ela durar parar sempre", diz.
Peter fixou-se nos Estados Unidos com a família, quando tinha nove anos. Instalou-se na cidade de New Bedford, onde existe uma grande comunidade açoriana, e licenciou-se em engenharia informática, na Universidade de Massachusetts-Dartmouth.
No final do curso, abriu uma empresa de serviços informáticos, mas seis anos depois desistiu deste trabalho.
Em 1998, estava de férias, na Escócia, quando olhou para um rebanho de ovelhas e tomou a decisão.
"Olhei para elas e pensei que não era diferente, tinha o sonho de ser fotojornalista mas estava cativo da minha profissão", explica. "Apesar de ser bem-sucedido, as hipóteses de seguir o meu sonho eram cada vez menores. Quando regressei, decidi que mudava naquele momento ou nunca."
Tendo a fotografia como um passatempo, na altura Peter não tinha um corpo de trabalho que pudesse mostrar a agências, revistas ou jornais.
"Mas sabia que tinha uma paixão e um desejo inabalável de contar histórias com a minha câmera. Era apenas uma questão de o fazer acontecer", explica.
Seis meses depois, passados vários pedidos de trabalho junto das redações, conseguiu o seu primeiro serviço pago.
Numa manhã, acordou cedo e foi até ao porto de New Bedford, quando viu uma embarcação antiga atracar.
Por impulso, fotografou o barco, pediu para subir a bordo e tirar mais umas fotos, dizendo que trabalhava para um jornal.
Nessa altura, descobriu que se tratava do navio português Gazela. No final, um jornal local comprou o trabalho.
Peter descobriu dias depois que o Gazela tinha salvo a vida dos seus dois avós – os dois homens eram melhores amigos e trabalhavam num bacalhoeiro quando a embarcação afundou e a tripulação foi resgatada pelo Gazela.
"O Gazela não me deu apenas vida, porque os meus pais ainda não eram casados quando o naufrágio aconteceu, mas deu-me o começo da minha carreira como fotojornalista. Fico emocionado apenas por pensar nisto", lembra Peter Pereira.
A partir de então, o fotógrafo começou a ter trabalho de forma regular.
Nos últimos 17 anos, além dos prémios da National Press Photographers Association, recebeu a distinção de fotógrafo do ano da New England Newspaper & Press Association, por sete vezes, e um prémio de excelência dos prémios China International Press Photo.
No campo da fotografia, diz que o fotojornalismo foi sempre a única opção para si.
"Ao contrário de outros tipos de fotografia, tem um impacto direto na forma como olhamos o mundo. É uma linguagem universal, capaz de atravessar fronteiras. Não tenho dúvidas de que o fotojornalismo consegue mudar o mundo", diz.
Representado pela agência portuguesa "4SEE", Peter diz que continua ligado ao país que deixou há quase 40 anos.
"Vivi nos Estados Unidos a maior parte da minha vida, mas gosto da ligação que esta agência me dá ao meu país. Tenho orgulho de ser português, de promover o país o quanto posso e vou sempre considerar-me português", afirmou.
Lusa/SOL