Luz verde para mano a mano na F1

Lewis Hamilton resistiu com unhas e dentes ao feroz ataque que Nico Rosberg lhe moveu no Grande Prémio do Bahrain. No Mónaco, o alemão fechou-lhe a trajectória e atrasou-o durante a sessão de qualificação. E na Bélgica chocaram, após uma ultrapassagem mal calculada quando o britânico seguia na frente.

O enredo da última temporada de Fórmula 1 centrou-se no despique entre os dois companheiros da Mercedes e para 2015 o filme promete não ser muito diferente. As hostilidades abrem já este domingo, no Grande Prémio da Austrália (5h, SportTV 5), depois de os testes de pré-época terem voltado a evidenciar a superioridade dos motores da escuderia alemã. Todos os indícios apontam para uma sequela da luta entre Hamilton e Rosberg.

“Queremos manter a filosofia de os deixar competir um contra o outro”, assumiu esta semana o director executivo da Mercedes, Toto Wolff.

A ideia poderia ser vista como arriscada num quadro de equilíbrio generalizado, mas não é essa a realidade: Red Bull, Ferrari, Williams e McLaren não conseguem acompanhar o ritmo do campeão de construtores de 2014 – e as outras equipas ainda menos.

Também não seria descabida a hipótese de Wolff estar a fazer bluff – passando uma mensagem para fora, respeitadora dos regulamentos, e transmitindo outra internamente, de primazia de um piloto sobre o outro, como tantas vezes acontece no 'grande circo' -, mas não parece ser o caso desta vez.

A Mercedes estará antes decidida a dar carta branca a Rosberg para tentar a sua sorte, alimentando a ambição do germânico de chegar a campeão do mundo. O filho de Keke Rosberg, piloto afamado dos anos 80 que conquistou o título mundial em 1982, não se faz rogado. E encara Lewis Hamilton: “Temos uma relação de altos e baixos e assim vai continuar. Há uma batalha intensa entre nós e isso não vai mudar tão depressa”.

O que mudou é a forma como está agora organizada a concorrência, desde logo com a chegada de Sebastian Vettel à Ferrari e de Fernando Alonso à McLaren. Os dois ex-campeões decidiram mudar de ares perante a supremacia incontestada da Mercedes.

O alemão que deu quatro títulos à Red Bull antes de Hamilton ter quebrado o ciclo cumpre o sonho nunca escondido de guiar para a marca italiana, aproveitando a saída do espanhol ao fim de cinco anos de resultados frustrantes. É um novo desafio para ambos e no que toca a Alonso um regresso a uma equipa que já havia representado em 2007.

Tanto num caso como no outro, porém, a resposta dos novos carros está longe de os posicionar na rota do título e só a sensibilidade de ambos para melhorar a afinação poderá encurtar distâncias para a Mercedes ao longo do ano. É um processo que requer tempo, com a agravante de o espanhol nem sequer estar apto para a corrida de abertura.

O acidente mal explicado durante os testes realizados em Barcelona não teve consequências de maior, segundo os médicos, mas aconselha a não arriscar um novo impacto em tão pouco tempo. O que se sabe é que Alonso perdeu a consciência por alguns momentos e teve falhas de memória. No entanto, ainda não houve explicações convincentes para o que aconteceu, tendo a McLaren avançado com a justificação do vento que se fazia sentir naquela zona da pista.

 

rui.antunes@sol.pt