O holandês trovador

Chegou confiante, mas discreto. Nos antípodas das tradicionais pop stars, podia ser um daqueles jovens estagiários que vemos chegar às empresas e desaparecer ao sabor da precariedade laboral, para ir tentar a sorte noutro sítio. Podia ser, simplesmente, Robbert Van de Corput, um rapaz de 27 anos da pequena cidade de Breda, na Holanda, numa…

Se a aparência é simples, o nome artístico não o podia ser mais. É Hardwell, duas vezes consecutivas considerado o melhor DJ do mundo pela revista DJ Mag, que todos os anos põe à votação dos internautas quem é o melhor malabarista dos pratos. Na sala de imprensa, fez os costumeiros elogios a Portugal e ao calor do seu público. Mas, no caso dele, estas palavras não são de circunstância. A exaltação latina é talvez a melhor interpretação da música construída por este DJ, e corresponde na perfeição à panóplia de sons e de efeitos visuais nos sets – assim se chamam estes concertos – do holandês.

Antes de subir à mesa de mistura, Hardwell dedicou-se a conversas cordiais com jornalistas e promotores do espectáculo. Era a segunda vez que tocava no ex-Pavilhão Atlântico – tinha deitado a sala abaixo em Dezembro de 2013 -, uma escala em mais uma grande tournée mundial que acompanha a saída do álbum United We Are. O à-vontade continuava desconcertante: “No início só sonhava dar espectáculos como este”, disse ao SOL. “Fingia estar a tocar para uma grande multidão, a partir do meu quarto. Então praticava, praticava, até começar a tocar em clubes e bares pequenos. A coisa começou a crescer e aos 18 anos eu já estava a tocar nos grandes palcos e festivais na Holanda. Mais tarde, no mundo”. Simples, não?

Não. O jovem começou estudos de piano logo aos quatro anos. Aos 14 iniciou-se nos sets de DJ em clubes locais. Tinha de ser acompanhado pelos pais por não ter idade suficiente para sequer entrar nos recintos. Foi com esta idade que conseguiu o primeiro contrato discográfico. É preciso dizer que a Holanda, hoje, não se pode resumir aos clichés das coffee shops em Amesterdão ou aos moinhos de vento e às socas no campo. Esta é uma terra de DJ, em que quem entra neste mercado apoia logo quem vem atrás.

Hardwell destaca a este nível o papel de Tiësto no seu percurso. Ele próprio já lançou dois nomes, Dannic e Kill the Buzz. O primeiro abriu o espectáculo de há dois anos em Lisboa e o segundo abriu o deste sábado.

Mas chega de conversas. O palco está montado, a mesa instalada. A multidão dos fiéis ensaia os cânticos de chamamento, como uma claque de futebol. Ensaiam os acordes de 'Seven Nation Army', de uma banda que nada tem a ver com os sons que se produzem por aqui, os White Stripes.

O DJ desfia os temas de United We Are, o disco que dá o nome à tournée, que agora avança, em Março, pelos EUA, começando pelo Schlitterbahn Beach Resort, na ilha South Padre, no Texas, no dia 20. Por lá – e por outras datas, no regresso à Europa – Hardwell dará ao público uma festa, ensaiando um português sofrível – “quero ouvir muito ba-ru-lio” – à medida da exuberância da música de dança. Não é um mundo demasiado comercial? “Não concordo de todo”, tinha dito, de um ímpeto, ainda na sala de imprensa. “Toco exactamente o que quero. Vejo isto mais como um concerto, em vez de estar a passar êxitos na rádio. Não sou uma jukebox, sou um verdadeiro DJ”. Já tinha entretanto vestido a camisola da selecção nacional com o seu nome e o n.º1 nas costas. É verdade, pela legião de fãs que arrasta, Hardwell é nosso. E é mesmo um tipo fixe.

ricardo.nabais@sol.pt