Falta de assistentes sociais e técnicos pouco qualificados afectam serviço social

A presidente da Associação de Profissionais de Serviço Social (APSS) advertiu hoje que a “grande contenção” na contratação de profissionais e a admissão de técnicos com qualificações mais baixas tem consequências na qualidade da reposta aos problemas sociais.

"Tem havido uma grande contenção por parte das instituições públicas e privadas em admitir profissionais (…) e isso tem como consequência muitos profissionais estarem com cargas de trabalho acima não só das suas possibilidades, mas acima do que seria aceitável para garantir umas boa qualidade de trabalho", disse Fernanda Rodrigues.

Por outro lado, "a falta de recursos existentes tem levado ultimamente a contratar profissionais com qualificações mais baixas, o que nem sempre garante desempenhos com a mesma qualidade e com a mesma exigência profissional", adiantou Fernanda Rodrigues, que falava à Lusa a propósito do Dia Mundial do Serviço Social, que se comemora na terça-feira.

Este retrato também é traçado à Lusa pela investigadora Inês Amaro: "os assistentes sociais têm-se confrontado com enormes dificuldades", entre as quais o volume excessivo de trabalho.

Há profissionais que "têm a seu cargo 400 processos familiares e é impossível conseguirem acompanhar um número tão elevado de famílias e pessoas em situação de dificuldade", frisou.

A acrescer a esta dificuldade estão as suas situações profissionais, muitas vezes precárias, "de exploração laboral e, às vezes, a serem secundarizados relativamente a outros profissionais que não têm formação e qualificação para exercerem estes lugares", sublinhou a autora do livro 'Urgências e Emergências do Serviço Social'.

Estão também a ser confrontados com um novo tipo de públicos "em já não se trata de escolarizar as pessoas ou dar oportunidades de ganharem competências básicas".

Segundo Inês Amaro, são pessoas com "altos níveis" de escolaridade que têm ideias sobre o que seria o seu projecto de vida, mas têm "falta de oportunidades efectivas" para o realizar.

Além disso, enfrentam o desafio de responder a um número cada vez maior de pessoas que os procuram, apesar da "pouca disponibilidade de oportunidades e recursos" que têm para oferecer, acrescentou.

Esta afirmação é sustentada pela presidente da APSS, sublinhando que, apesar do caminho feito no sentido de fortalecer os recursos, "em circunstâncias como a actual há um grande desequilíbrio entre o que seria necessário e aquilo que existe em relação aos problemas".

Esta situação potencia casos complicados para os profissionais da "linha da frente", muitas vezes confrontados com situações difíceis, "em que têm que assumir na primeira pessoa decisões e opções que não são suas", disse Fernanda Rodrigues.

Muitas vezes estas decisões são difíceis de explicar e de interpretar pelas pessoas, o que "cria um risco grande de insatisfação", muitas vezes expresso de forma violenta, salientou.

"É uma violência muitas vezes proporcional à violência da vida que as pessoas têm", lamentou Fernanda Rodrigues, rematando: "Nós percebemos isso, mas também percebemos que temos que defender os profissionais e colocá-los em situações que não estejam sujeitos a essas agressões".

O Dia Mundial do Serviço Social tem este ano como tema "Promover a dignidade e o valor das pessoas".

Lusa/SOL