Costa disse não gostar de fazer uma política de casos, mas acentuou que o assunto está agora nas mãos dos eleitores. Pessoalmente, como eleitor, acho que estes casos (e mais ainda o da Tecnoforma a ganhar dinheiro dos contribuintes nacionais e europeus com formações para aeródromos inexistentes) são uma demonstração de carácter (tal como o tinham sido, com Sócrates, os seus projectos e a sua espécie de curso) que o não indica de forma nenhuma para primeiro-ministro, nem de uma república das bananas. E começo a conformar-me com a teoria de Popper, segundo a qual a democracia não nos permite eleger os governos mais desejáveis – mas permite-nos ao menos afastar os que desejamos menos. E quanto mais aparecem pessoas a quererem desvalorizar a falta de carácter desta gente, mais os eleitores a valorizam, sobretudo sentindo na pele que são tratados de outra maneira.
Lembro-me de ainda não há muito, apanhado por um rendimento agrícola inesperado da minha mulher, com influência no IRS (porque eu declaro tudo o que sei ter de declarar, e sei que tenho de declarar tudo, não me dou ao luxo de pretender não saber alguma coisa), o Fisco não me deu sequer a oportunidade de prestações. Felizmente a crise financeira ainda não redundara numa asfixia económica generalizada, e consegui vender rapidamente uns quadros em leilão, e pagar a tempo tudo. Porque comigo o Fisco não teve a compreensão que está a ter com Passos.
E o PS faz bem em exigir que, perante a ‘souplesse’ com que Passos trata das suas obrigações com o Estado, este seja impedido de penhorar e vender as casas de família, que seria a primeira coisa a ter marchado da minha posse, naquela altura da dívida fiscal. Ao menos, que o alívio de Passos, mesmo apenas passageiro, se transmita ao resto dos contribuintes.
E há sempre mais coisas: como as contratações públicas ignorando as recomendações da comissão apropriada, afastando todos os resquícios de candidatos a cheirarem a PS.