Meteorologistas europeus admitem “erros dispendiosos”

Meteorologistas de 19 países discutem hoje em Arouca a harmonização de procedimentos entre diversos radares europeus, num ambiente de “amizade e confiança” que, facilitando o reconhecimento de “erros dispendiosos”, permite “poupar dinheiro aos contribuintes”.

A perspectiva é da finlandesa Elena Saltikoff, gestora do projecto OPERA, que até 2017 se propõe estabelecer uma plataforma europeia de troca de experiências sobre questões operacionais dos radares meteorológicos e, com base nessa informação, desenvolver e distribuir produtos compósitos com alta qualidade.

"Esta é uma reunião de especialistas que está a decorrer num ambiente de amizade e confiança, o que permite às pessoas sentirem-se à vontade para admitirem os erros que fizeram e partilharem com os outros o que correu mal nos seus países", declarou à Lusa a meteorologista da Finlândia.

"Como o que está em causa neste contexto são habitualmente erros muito dispendiosos, esta é uma forma de evitarmos situações idênticas e de assim pouparmos dinheiro aos contribuintes", acrescenta. 

Elena Saltikoff garante que o espírito de confiança observado entre os quase 50 meteorologistas agora reunidos em Arouca é "decisivo para uma discussão verdadeira" e, embora sem revelar especificidades dos casos já analisados à porta fechada desde quarta-feira, revela que "o trabalho já teve resultados muito frutíferos".

"Estes especialistas trabalham todos de acordo com as regras dos seus governos e há casos que já ficámos a saber que não se devem repetir", realça.

Sérgio Barbosa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, nota que o encontro internacional favorecerá ainda a definição de requisitos comuns para a informação que é recolhida por cada estrutura nacional e depois partilhada com os serviços meteorológicos do Centro de Operação de Dados Odyssey – que desde Setembro de 2014 conta com o contributo dos radares portugueses de Coruche e Loulé, e "em breve irá receber também o do radar de Arouca".

"A vantagem da harmonização de dados é que englobará toda a área de cobertura dos diversos países europeus que enviam informação para o Odyssey e permitirá criar produtos melhores", explica o responsável do IPMA, referindo-se aos diferentes suportes em que se expressam dados meteorológicos, como é o caso de mapas sobre a intensidade da precipitação ou máximos de reflectividade. 

"A ideia é que no futuro esse 'input' adicional facilite a introdução de modelos numéricos de previsão do tempo, para se melhorar a qualidade da previsão a nível global", observa.

Nesse contexto, Sérgio Barbosa admite ainda que a generalidade dos serviços meteorológicos europeus beneficiaria com a existência de mais profissionais em funções na área de radar. "Há pouca gente a trabalhar nisto em Portugal – temos só três a nível nacional – e, com mais pessoas, o desenvolvimento das previsões também seria maior", conclui.

Lusa/SOL