Do sono para a morte

Vivemos uma vida inteira a tentar configurar a morte.

De início, quando alguém falece, vemos lágrimas, tristeza e dor nos nossos familiares. Depois, assistimos à explicação que nos tentam dar da mesma. Permanece a sensação de dor, de vazio e, acima de tudo, a percepção de que não voltaremos a ver a pessoa que faleceu. Até que a vida nos surpreende e perdemos alguém que nos é próximo, inesperadamente ou como espectadores na bancada da doença terminal que respira lentamente ou abruptamente os últimos suspiros da vida.

A Medicina desafia todos os dias a morte, tendo alargado o tempo que hoje permanecemos na Terra. E este desafio traz novos desafios para o futuro perante uma população envelhecida: os cuidados paliativos. Antes de focarmos a discussão na eutanásia, devemos perceber que da mesma forma que não escolhemos nascer, também talvez não devamos poder escolher morrer. Mas todos devemos poder optar por uma "morte santa", perante estados insustentáveis de sofrimento e é neste campo que surge a importância dos cuidados paliativos com vista ao tratamento da doença prolongada, incurável e progressiva. Estes cuidados aliam a ciência ao humanismo pela dignidade a que todos temos direito até ao fim da vida.

A França aprovou uma lei que abre a porta à inédita possibilidade de dormir antes de morrer, no fundo legisla aquilo que é e já existe: a sedação paliativa.

Em Portugal existe uma profunda necessidade de despertamos para a importância dos cuidados paliativos que permitem uma melhor racionalização dos meios aliados a uma medicina competente e humanista.

"Aqueles que possuem força e amor para se sentarem junto a um paciente moribundo, no silêncio que se estende para além das palavras, saberão que esse momento não é assustador nem doloroso, mas cessação pacífica do funcionamento do corpo".