Este regresso, após o tal ano de ausência, aconteceu também fruto de uma parceria com a Samsung – algo que já havia acontecido em 2012. “Para as marcas o mundo da moda é muito importante. E, num país onde não existem investidores nem muitos compradores, é bom quando as marcas ajudam”.
Apesar das dificuldades transversais à área, Aleksandar Protic mantém um olhar positivo sobre o futuro. Até porque continua a trabalhar na criação de figurinos, sobretudo para dança contemporânea, que lhe permite uma maior estabilidade como designer.
Em criança, Aleksandar Protic queria ser pintor e passava os dias, num universo só seu, agarrado aos lápis e canetas. Desenhava de tudo um pouco. “E também já desenhava fatos!”, recorda. Quando se estava a preparar para ingressar na licenciatura em Pintura, estas memórias de infância ocuparam-lhe os pensamentos. “Queria ser pintor, mas depois senti que precisava de algo mais. A moda é algo que se veste, que se vê na rua, que usamos. É isso que eu gosto na moda, foi isso que me fez mudar de ideias. Percebi que a pintura não me ia chegar”.
Curiosamente, hoje em dia, Aleksandar não desenha as suas colecções. É dos poucos criadores em Portugal que cria as suas peças directamente sobre o corpo de quem as vai usar. “Não é uma forma muito comercial de trabalhar, mas é a única que eu conheço. Na faculdade, quando desenhava as minhas peças, sentia sempre que as coisas nunca ficavam como no desenho. Por isso deixei de desenhar e passei a esculpir no manequim. Na faculdade adorei a disciplina de anatomia, acho que sempre senti um fetiche pelo corpo”.
Terminado o curso de Design de Moda e Figurinismo na Faculdade de Belas Artes de Belgrado, em 1998, passou um ano na Royal Academy of Fine Arts, em Antuérpia, berço, nos anos 80, do chamado The Antwerp Six, colectivo formado por Dries Van Noten, Ann Demeulemeester, Walter Van Beirendonck, Dirk Van Saene, Marina Yee e Dirk Bikkembergs, que levou o minimalismo belga aos quatro cantos do mundo. Ainda assim, sentia-se home sick – apesar de viver em Portugal há 15 anos, Aleksandar raramente usa a expressão ‘saudade’. Voltou para Belgrado e começou a apresentar o seu trabalho na Semana de Moda local. O seu regresso coincidiu com o bombardeamento de Belgrado, em 1999. “Aprendi muito sobre a vida com tudo o que aconteceu. Mostrou-me como somos tão pequenos e que não mudamos nada. E isso deixa-nos mais humildes”. Mudou-se para Paris e, numa visita a um amigo em Lisboa, mudou a sua vida. “Quando me apercebi, já cá estava há três meses e não tinha sentido home sick nenhum. Fiz logo muitos amigos. Fiquei em Portugal pelas emoções”.
Abriu uma loja no Bairro Alto e, em 2002, foi convidado para apresentar o seu trabalho na ModaLisboa. De imediato ganhou uma legião de fãs, algumas dessas mulheres ainda hoje são suas clientes. “Nessa altura aprendi muito sobre portugueses. Percebi que são muito doces e muito amigos, mas por vezes também podem ser difíceis em termos profissionais. Mas, no meu caso, correu muito bem. É certo que eu era estrangeiro, mas já estava habituado a ser visto como o outsider, até em Belgrado, onde nasci”.
Depois de apresentar quatro colecções na ModaLisboa, decidiu parar. “Foi difícil conciliar a loja e apresentar colecções. Foi uma decisão muito difícil. Mas depois também foi uma decisão muito difícil voltar. Há falta de confiança, há medo. Como vai correr? Será que ainda sei fazer isto? Os artistas têm um ego grande. Mas um ego que é muito fácil magoar”. Curiosamente, o seu regresso, em 2005, foi a única vez no seu percurso que criou uma colecção utilizando tecidos estampados. “Gosto mais da ideia de forma do que de padrão, mas dessa vez usei umas sedas vintage com muitos padrões”, diz, enquanto ri.
Em 2005, como agora, voltar a subir à passerelle é sempre especial. Apesar de todos os medos. “Tenho muito medo da passerelle e esta era muito grande e obrigou-me a dar uma volta enorme. Estava em sofrimento. Não sou manequim, não gosto de me mostrar a mim, gosto de mostrar o que faço. O trabalho é que fala sobre nós. Mas claro que sinto o gosto de voltar. Quando parei mais tempo, senti muita falta de tudo isto”. Um misto de sentimentos que Aleksandar Protic sente também quando o assunto é nacionalidade. “Em Belgrado sinto-me português. Quando estou cá, não sei o que sinto. A verdade é que não sei o que é ser português ou o que é ser sérvio. Mas a minha vida é aqui”.